[Opinião] Será isto sobre o Tik Tok?

Ana Isabel Silva CRÓNICAS/OPINIÃO

Nos últimos tempos, o Tik Tok tem estado no centro da discussão, com a possibilidade de ser banido nos  Estados Unidos. Para justificar esta medida, o governo americano apresenta dois argumentos principais:  (1) o Tik Tok, sendo uma plataforma detida por uma empresa chinesa, pode estar a ser utilizado para  espionagem contra cidadãos americanos, representando uma ameaça à segurança nacional; e (2) a  capacidade do governo chinês de influenciar a política e o futuro dos Estados Unidos através da  manipulação de conteúdos na plataforma. 

A decisão judicial no caso Tik Tok v. Garland concluiu que o risco de espionagem por parte da China era significativo. Atualmente, cerca de 170 milhões de americanos utilizam a plataforma, tornando a sua  remoção uma medida com impactos massivos no país, influenciando o resto do mundo. No entanto, a congressista democrata Alexandria Ocasio-Cortez questionou a existência de provas concretas sobre  

espionagem por parte do governo chinês que foram dadas aos membros do congresso. Além disso,  criticou o governo americano por não demonstrar a mesma preocupação em relação às empresas  americanas que também praticam vigilância digital em grande escala. 

Em vez de atacar apenas o TikTok, porque não está disposto o governo Americano a lidar com a  espionagem digital como um todo? 

Os republicanos e os seus apoiantes tendem a ser mais favoráveis ao banimento do Tik Tok, enquanto os  democratas demonstram maior resistência à ideia. Muitos justificam essa diferença ao tipo de conteúdo  partilhado na plataforma. O Tik Tok tem sido um espaço para manifestações políticas, incluindo apoio à  causa palestina, o que obviamente desagradou muitos republicanos. Contudo, os dados indicam que o  apoio ao banimento tem vindo a diminuir significativamente em ambos os espectros políticos. Como  esperado, os utilizadores do Tik Tok são os que mais se opõem ao banimento. 

A tentativa de proibição foi, na verdade, um esforço para forçar a venda da plataforma aos norte-americanos. No entanto, muitos defendem que o prazo imposto foi tão curto que nenhuma empresa  conseguiu concretizar a aquisição. Atualmente, o presidente Donald Trump, que tomou posse a 20 de  janeiro, anunciou que concederá uma extensão para que essa compra possa ser realizada. Recentemente,  ao abrir o TikTok nos EUA, os utilizadores foram confrontados com uma mensagem que sugeria que  estavam a trabalhar com Donald Trump para que a aplicação voltasse a estar disponível. Esta foi uma  decisão do TikTok a que temos de estar atentos: associar-se politicamente a Trump. 

Entretanto, surgem alternativas como o Bluesky, uma plataforma descentralizada que visa criar um  espaço digital menos suscetível a manipulações políticas e empresariais, mas são ainda escassas. 

Vale lembrar que Jeff Bezos (dono do Washington Post), Mark Zuckerberg (dono da Meta, que controla  Facebook e Instagram) e Elon Musk (dono do X, antigo Twitter) estiveram presentes na tomada de posse  de Trump. Musk anunciou recentemente uma mudança no algoritmo do X para promover mais conteúdo  positivo, o que vai resultar numa visão mais favorável ao novo governo americano e na silenciação de  muitas críticas. 

O futuro das redes sociais e dos seus algoritmos precisa de ser amplamente discutido, sem uma  centralização exclusiva nos interesses americanos. Caminharemos para um futuro em que estaremos cada vez mais nas mãos de oligarcas que dominam estas plataformas e decidem quais informações  chegam ao público?

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

19 + 1 =