[Editorial] Dia da libertação?

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Donald  Trump, com o espalhafato próprio de quem se habituou a considerar-se superior a tudo e a todos, declarou que o passado dia 2 de abril era o “dia da libertação”. A razão para tal foi ter decidido aplicar tarifas à importação, pelos Estados Unidos, de mercadorias produzidas em todo o planeta (ou quase).  O autoconvencido presidente, que, de caminho, considerou estúpidos todos os seus antecessores, pretende libertar o seu país da opressão de todos os outros que, segundo diz, aplicam tarifas aos produtos americanos prejudicando os interesses americanos por assim criarem um enorme desequilíbrio nas trocas comerciais.

Não é simples prever os efeitos desta guerra comercial, considerada por alguns como a mais estúpida da história. Mas, na verdade, até é fácil ver que são os próprios americanos que vão pagar mais pelos produtos importados, o que terá como consequência aumento da inflação. O mesmo acontecerá nos países que retaliarem com tarifas sobre os produtos importados dos USA. E não será nem fácil nem imediato fazer voltar para casa, como espera Trump, as fábricas americanas que se deslocalizaram, ao longo das últimas décadas, para outros países, à procura de preços de produção competitivos.

O “dia da libertação” representa, por isso, um duro golpe nas boas intenções da Organização das Nações Unidas, que nos seus objetivos inscreveu a cooperação internacional para resolver os problemas de ordem económica e social dos seus membros, subentendendo um mundo de comércio livre e economias abertas. Acrescentando ao corte, já concretizado, de apoios humanitários em regiões de pobreza e fome endémicas a tarifação de produções agrícolas e industriais incipientes, mais pobreza se cria, sem que isso acrescente, sequer, a riqueza da América.

Putin acabou com as Nações Unidas no que respeita à manutenção da paz entre as nações e ao respeito pelos tribunais internacionais criados no âmbito das Nações Unidas, ao desencadear e manter a guerra de invasão da Ucrânia. Não há quem possa prever o que ainda virá.

Trump, ao invés de resolver o problema da Ucrânia, como tinha prometido, não só parece ter Putin em elevada consideração como parece querer seguir o seu exemplo, a avaliar pelo que vai alardeando em relação à Gronelândia e ao Canadá. E “acabou” com a NATO, salvo no que respeita à disponibilidade da sua indústria militar para rearmar a Europa.

O que vai acontecer após o dito “dia da libertação” é uma guerra comercial com todos os ingredientes para provocar uma quebra no desenvolvimento económico mundial. Como em todas as guerras, quem tem mais a perder são os mais fracos. Numa guerra comercial vão perder mais os que já são mais pobres.

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