[Editorial] Liberdade e democracia. A que preço?

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

A inflação já tinha começado a subir antes da invasão russa da Ucrânia. Uma sequela da pandemia, garantidamente. A guerra acelerou tudo, com os problemas de abastecimento de energia à União Europeia e as dificuldades de escoamento dos cereais e das rações a contaminarem toda a economia. Assim, a acrescentar às preocupações com o ambiente fez-se marcha atrás, em alguns países, relativamente ao uso do carvão e até a energia nuclear usada na produção de eletricidade passou a ter o estatuto de “verde”. Por cá, a seca extrema esvaziou as barragens, reduzindo a produção hidroelétrica. A escalada dos preços da eletricidade faz-nos pensar se as mensagens otimistas do nosso fornecedor sobre a “energia verde” que nos garantem entregarem em nossas casas não serão só conversa fiada.  

Os apelos à “sobriedade energética” que os países do norte e do centro da Europa estão a fazer de forma sistemática, porque o seu inverno vai ser penoso, são consequência da dependência a que se sujeitaram, talvez de forma negligente, dos fornecimentos russos. E, se na Ucrânia a luta é com armas de guerra, já se tornou claro que, a guerra com a Europa ´feita com armas económicas: contra as sanções, corta-se o gás. A ver se os povos se cansam e forçam os governos a ceder.

O presidente francês alertou, recentemente, os seus concidadãos para “o fim da abundância”, e que “será preciso ânimo para, unidos, aceitar pagar o preço da nossa liberdade e dos nossos valores”.

“Muito para além de um consenso para os apoios que os governos entendam proporcionara aos cidadãos, às famílias e às empresas na atual conjuntura económica, importa fazer passar a ideia da necessidade de aceitar pagar o preço pela consolidação dos valores democráticos na Europa”

Já o presidente norte-americano afirmou, há dias, que não é normal muito do que acontece no seu país: “Trump e os republicanos do MAGA (“make america great again”) representam um extremismo que ameaça os próprios fundamentos da nossa república”.

E sabe bem quem recorda a história recente que aquilo que hoje parece sólido e resistente como o próprio edifício democrático é, na realidade, extremamente frágil. O crescimento dos movimentos populistas e demagógicos pode vir a comprometer o apoio à resistência ucraniana, sendo que, segundo muito doutas opiniões, a guerra dos ucranianos contra a invasão russa é uma guerra pela democracia na Ucrânia e na Europa.

Por isso, muito para além de um consenso para os apoios que os governos entendam proporcionara aos cidadãos, às famílias e às empresas na atual conjuntura económica, importa fazer passar a ideia da necessidade de aceitar pagar o preço pela consolidação dos valores democráticos na Europa.
Sobriedade, frugalidade, moderação. Combate ao desperdício. Eficiência. São as palavras de ordem necessárias, a juntar aos “pacotes” de apoios e apesar deles. Porque o mais certo é que a inflação veio para ficar por muito mais tempo do que aquele que o “otimista irritante” que é António Costa tem vaticinado.

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