[Opinião] Ligado à vida

CRÓNICAS/OPINIÃO João Ferreira

Num tempo de jogos de aparências, onde a política tantas vezes se perde em discursos vazios, que se esgotam por si só, ou em grandes causas que pairam distantes do chão que pisamos, há quem teime em afirmar a política local, enquanto força motriz de transformação. Assim foi na última Assembleia Municipal de Santo Tirso, onde apesar de só ter um único deputado, o PCP apresentou quatro moções nas mais diversas áreas. Três delas foram acolhidas favoravelmente, e esse facto é um sinal inequívoco de que a justeza das causas não se mede pelo número de braços, mas pela razão que as sustenta.

Foi neste espírito que se fez justiça a Carlos Paredes, vulto maior da nossa cultura e um dos principais responsáveis pela divulgação e popularidade da guitarra portuguesa. Num concelho que se orgulha do seu Festival Internacional de Guitarra, não se podia deixar passar o centenário do mestre. A proposta do PCP, aprovada, corresponde ao devido tributo a um vulto que transcende o tempo e levou-o para onde deve estar: um nome que merece ecoar numa rua da cidade e nas sessões culturais que hão de assinalar a efeméride.

E porque a cultura se faz também de luta e resistência, houve quem não esquecesse as mulheres, que sempre souberam que a liberdade não se recebe de mão beijada, mas se conquista palmo a palmo. Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, o PCP trouxe à Assembleia um voto que, aprovado, não se limitou a saudar, mas exigiu o acompanhamento da evolução da condição e estatuto das mulheres como mães, cidadãs, trabalhadoras, num concelho onde o plano municipal para a igualdade é um espelho baço, incapaz de refletir as causas da discriminação. Santo Tirso tem um plano municipal para a igualdade, sim, mas um plano que não se debruça sobre as causas profundas da desigualdade e da discriminação: os salários desiguais, o desemprego que as fere, os horários que roubam a vida familiar. Acresce que, num concelho com números esmagadoramente inferiores de atletas femininas, por comparação com os masculinos, ou com uma baixíssima percentagem de mulheres em direções de associações e coletividades, o PCP clamou por mais.

E porque a saúde é direito, não mercadoria, o Partido apresentou a moção “Por um Hospital Público e de Qualidade”. Aprovada, apesar dos votos contra de PSD e Chega, a moção não se limita a pedidos de esclarecimentos à Ministra da Saúde. Mais do que esclarecimentos, o PCP exigiu que o hospital continue público; que se reforce o número de profissionais, valorizando as suas condições de trabalho; que se recupere o que foi perdido ao longo dos anos, reforçando equipamentos e valências; e se inicie a construção de um novo hospital, moderno, digno, à altura das necessidades da população. Na Assembleia fez-se eco das mobilizações recentes.

Por fim, o PCP voltou-se para a questão dos parquímetros. Propôs a eliminação dos parquímetros em zonas essencialmente residenciais, como a Rua Luís de Camões e a Rua do Picoto, e junto ao hospital, no Largo Domingos Moreira. Quem vai ao hospital não o faz por lazer, não o faz por conveniência, mas por necessidade. Que justiça há em cobrar estacionamento a quem já carrega a angústia da doença, a aflição da urgência, a inquietação da espera? Mas desta vez a muralha ergueu-se: PS, PSD e Chega disseram não.

Enquanto outros se perdem em jogos de aparências, o PCP planta-se firme na vida concreta, na luta constante por um concelho e país mais justo. E essa luta, o PCP não a abandonará.

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