[Opinião] Reclamar a cidade em 2025

CRÓNICAS/OPINIÃO João Ferreira

Na mudança do ano, época de balanços e projeção de objetivos, considero apropriado propor uma reflexão sobre o tipo de cidade em que queremos viver. Muito mais do que a soma de ruas, praças e edifícios, a cidade é o coração pulsante das interações humanas que nela se estabelecem, o cenário onde a luta entre a lógica do capital e os anseios populares por emancipação se desenrola.

Santo Tirso, outrora símbolo do trabalho operário, vê hoje o seu tecido social desfiado pelas contradições do capitalismo. Como um rio represado, a cidade está presa aos interesses de poucos, enquanto muitos são expulsos através das suas margens. Na última década, Santo Tirso perdeu mais de 5% de sua população, prevendo-se o agravamento desses números, pois no ano transato foi o concelho que registou a maior subida das rendas no distrito do Porto, a que acrescem os despejos, a especulação imobiliária e a falta de investimento em habitação pública. Essas políticas, arquitetadas quer pelo PSD-CDS, quer pelo PS, a nível nacional ou local, colocaram o lucro acima das pessoas, alienando os trabalhadores de sua própria cidade.

A cidade não é um tabuleiro de xadrez para os interesses do mercado; é o lar dos que a constroem com seu trabalho e sua vida. Reconquistar Santo Tirso significa devolver à população o poder de moldar o espaço urbano e social. Para isso, é preciso fazer da participação popular a pedra angular do futuro. Se desejamos uma cidade solidária e participativa, então devemos ambicionar conselhos municipais participativos, o fortalecimento de associações populares e de moradores, bem como a sua participação no futuro da cidade. O mesmo se aplica em relação à Cultura. Sem cultura, a cidade é um corpo sem alma. A construção de um auditório municipal, equipado para receber teatro, música e cinema, pode ser o epicentro de um renascimento cultural, em cooperação e diálogo com as diversas associações locais. De seguida, a requalificação do espaço público, desde a revitalização dos mercados e feiras municipais, priorizando produtores locais, fortalecendo a economia solidária e criando um espaço de encontro e convivência.  Se desejamos uma cidade inclusiva, devemos implementar uma rede de mobilidade pública eficiente e acessível, que desafie a hegemonia do automóvel e reduza as barreiras de classe na circulação urbana. As ruas devem ser desenhadas para a vida, incluindo calçadas amplas e corredores verdes que promovam o bem-estar das populações. Resistir à privatização também é central para devolver à cidade o seu caráter público. Não é apenas uma questão de abastecimento de água ou recolha de resíduos; é sobre garantir que esses bens permaneçam sob o controle democrático do povo.

Santo Tirso, com sua rica tradição operária e o seu associativismo popular, pode ser o palco de um novo modelo de cidade, centrado nas necessidades sociais, criando-se um contraponto à lógica de privatização e exclusão. Pode ser um exemplo de que o direito à cidade e a luta por uma sociedade justa, começam nos pequenos gestos: uma assembleia num bairro, um mercado revitalizado, um rio recuperado.

Que 2025 seja o ano em que a população de Santo Tirso se levanta, não apenas para reformar, mas para transformar. Transformar a cidade é transformar quem somos. Transformar freguesias e bairros em comunidades vibrantes, transformar mercados em espaços de encontros, transformar ruas em artérias da vida popular. É na aliança entre uma força política (CDU), o movimento associativo e os trabalhadores que reside o potencial para transformar essa visão em realidade. Uma cidade justa, solidária e inclusiva. Uma cidade para o povo, feita pelo povo. Uma cidade de Abril, sempre.

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