[Editorial] Vila das Aves, a freguesia e a cidade

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Uma edição do Diário do Norte, com data de 29 de outubro de 1955, descoberta por acaso entre papéis antigos, apresenta, em destaque de várias páginas, a Vila das Aves. Tinham passado poucos meses sobre o 4 de abril, data de elevação de S. Miguel das Aves à categoria de vila e o foco da reportagem do extinto jornal incide sobre os “anseios e realizações” da terra.

Que vantagens antevê dessa elevação, perguntava o jornalista ao presidente da Junta de Freguesia de então, Luís Gonzaga Mendes de Carvalho? A resposta foi direta e sintética: “além do título honorífico, que nos distingue, é sobretudo motivo de fagueiras esperanças quanto ao futuro, pois confiamos cegamente numa maior ajuda daqueles mesmos poderes públicos que só fizeram justiça com essa elevação”. E mais: “uma vez distinguidos, seríamos a vergonha de nós próprios se a terra não vier a condizer com o título. Criamos exigências que não se concretizarão se a ajuda não vier de cima”.

Rever assim uma edição de jornal quase setenta anos depois e verificar que parte dos anseios aí declarados ou esperaram décadas para se concretizarem ou continuam em carteira, é algo chocante. Exemplos? O parque do Verdial é referido nesse destaque, assim como o “arranjo e abertura de ruas que condigam com uma vila”, referindo explicitamente a rua da Sra. da Conceição, que já presumia a ligação à Tojela.

Foi inaugurado o parque, tantos anos depois. Houve investimento, mas não terá preenchido todas as expectativas. A vila cresceu, é certo, e o destaque desta edição do Entre Margens tem como pretexto mostrar quão diferentes são alguns dos aspetos de hoje em relação ao que existia há 69 anos. As exigências, essas mantêm-se, tantas delas sistematicamente assumidas em promessas invariavelmente adiadas.

Que sirva o aniversário para retomar a ideia então tão bem expressa de unir “todos os avenses que se prezam” para levar a cabo a “coadunação da terra à categoria que lhe deram”.

É bem certo que ser vila, há setenta anos, tinha um significado e um alcance que já não é o mesmo nos dias que correm. Mas que não seja por isso menosprezada: a transformação da designação de Aves em Vila das Aves deveria ser definitiva e oficialmente assumida. A sua desvalorização, ancorada no facto de se manter oficialmente a designação antiga, desmerece as lutas e as conquistas das gerações anteriores.

Honrar os antepassados também pode passar por lutar pela subida de um degrau significativo na hierarquia das povoações. É sabido que a única condição que falta preencher para satisfazer as condições de lei para que Vila das Aves possa a ser elevada à categoria de cidade é atingir nove mil eleitores. Não falta muito e tudo o resto está superado.

E não há nenhum inconveniente em designar oficialmente por Vila das Aves a futura cidade, pois não faltam cidades cujo nome contem a antiga designação de vila.

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