[Opinião] Um novo hospital

CRÓNICAS/OPINIÃO João Ferreira

No verão passado, por duas vezes, as urgências do Hospital Conde de São Bento – Santo Tirso foram encerradas por falta de médicos. Este ano, o drama regressou mais cedo e as urgências voltaram a não funcionar entre as 00h00 e as 08h00, na última semana de Maio. Um funcionário do Hospital, em declarações ao Jornal de Notícias, referia que “só por vontade dos médicos de medicina interna a urgência funciona. Senão, fechava quase todos os dias”. A par das lacunas ao nível de enfermeiros e médicos – com mais de metade em regime de prestação de serviços – registam-se ainda relatos de falta de espaço no internamento, com dezenas de doentes internados em unidades fora do hospital; constrangimentos no serviço de transporte dos doentes entre unidades do Centro Hospitalar do Médio-Ave, com concursos a ficarem desertos; falta de materiais básicos, como batas, luvas, máscaras e desinfetantes; falta de capacidade para a internalização de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, o que demonstra o estado limite a que está a chegar o Hospital.

Não obstante as obras recentes de reabilitação e ampliação do Hospital, com uma nova unidade de saúde mental, o certo é que tais melhorias não apagam uma realidade marcada pelo esvaziamento de serviços e valências –desaparecimento da Maternidade e da unidade de internamento de cirurgia – com consequentes prejuízos para as populações. Acresce que, tais obras recentes não podem servir para adiar o que a Administração, os profissionais de saúde e os utentes consideram inevitável, nomeadamente a necessidade de se avançar com a construção de um hospital de raiz dotado dos meios e valências necessárias para dar resposta às necessidades do nosso concelho. Uma necessidade à qual os eleitos do PCP e da CDU têm dado voz em diferentes espaços nos quais estão representados, como decorre do compromisso eleitoral do distrito do Porto nas recentes eleições legislativas.

Assim, tal como sucede em outros locais do país, a população de Santo Tirso vê-se confrontada com as políticas de desinvestimento e desvalorização do Serviço Nacional de Saúde, executadas à revelia dos interesses dos utentes e dos profissionais de saúde, que nos colocam perante duas escolhas. Ora a defesa e o reforço do serviço público de saúde, com cobertura territorial alargada, de modo a assegurar a universalidade, gratuitidade e equidade no acesso. Ora, o aprofundamento do “sistema” em que o Estado sustenta o negócio privado da saúde, à custa do serviço público, e sem a garantia de um serviço de qualidade. Perante o histórico de mobilizações da população tirsense para impedir o fecho da maternidade ou para assegurar a permanência do Hospital no Serviço Nacional de Saúde, impedindo a sua privatização (o que foi assegurado), torna-se evidente que a preferência recai na defesa do SNS, com o seu carácter público, universal e gratuito, enquanto direito e conquista de Abril. Para tal, as experiências de mobilização e luta do passado devem servir de exemplo para o presente, desta feita pela construção de um novo Hospital, com a capacidade e a dimensão adequada para servir esta gente.

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