[Suplemento de Natal] As “Peixonas” de Edgar Moreira Carneiro são “prática de pura liberdade”

ATUALIDADE

Artista expõe mais de 60 peças na Casa Amarela do Largo Coronel Baptista Coelho, em Santo Tirso, durante todo o mês de dezembro.

Naquele fim de tarde cinzentão de inverno gélido em Santo Tirso, a cor esteve toda guardada e concentrada no interior da Casa Amarela, na varanda do Largo Coronel Baptista Coelho, bem no coração da cidade. Lá dentro estavam expostas pelos dois andares do espaço as mais de 60 “Peixonas” que Edgar Moreira Carneiro criou ao longo da última década e eram agora envoltas pela multidão que preenchia as salas e os corredores.

A tarde de emoções fortes alinha com teor da produção artística do ceramista. Estes peixes tremendamente expressivos são a forma final de um processo criativo que é também comunicativo: é o modo como o artista filtra o mundo e a suas emoções perante o que o rodeia.

Como explica a curadora da exposição, Yasmine Moradalizadeh, a prática de Edgar Moreira Carneiro “surge como forma de expressão própria do que sente e pensa, quando o campo linguístico se mostra limitado”, sendo por isso “uma janela que aponta para a educação sobre o autismo e as suas potencialidades”.

“Mostra como a arte poderá ser uma metodologia reestruturante no campo da neurodiversidade e, simultaneamente, como ela reestrutura o mundo artístico e o seu significado”, realça.

Nascido em 1996, Edgar Moreira Carneiro foi diagnosticado aos dois anos de idade a perturbação do espectro do autismo e desde então foi introduzido ao mundo da modelagem como metodologia de desenvolvimento das capacidades ligadas à motricidade fina.

Durante muito tempo, produzia figuras baseadas nos seus heróis em plasticina colorida até que em 2011, com o apoio da família, começou a trabalhar em cerâmica no atelier do artista portuense João Carqueijeiro, onde constrói a sua própria linguagem artística.

Uma linguagem que se traduz num universo antropomórfico vasto em criatividade que usa não só as formas das figuras como as cores intensas e texturas acentudadas para captar um imaginário muito próprio que alcança uma ligação primal com o público.

Durante a sua intervenção na abertura da exposição, João Carqueijeiro sublinha que a obra do Edgar é composta por peças “muito expressivas e diretas”, baseadas numa pureza e ingenuidade do processo criativo que “acaba por nos emocionar”.

“O Edgar é um artista na verdadeira ascensão da palavra. Trata a arte pela arte”, destaca. “Ele trabalha todos os dias durante horas e cada peça é surpreendente. Ele faz o que lhe apetece e o que lhe vem à cabeça. É uma prática de puta liberdade”.

Tudo isto seria impossível sem o apoio familiar: da mãe, Albertina Moreira, e da irmã, Ana Catarina que lhe permitem “mergulhar fundo, procurar os peixes que quiser”, porque quando “chega à superfície tem sempre apoio para respirar”.

Edgar Moreira Carneiro é utente da CAID – Cooperativa de Apoio à Integração do Deficiente. Desde 2014, expõe e participa em inúmeras exposições de forma individual e coletiva, destacando-se a presença da Galeria Geraldes da Silva (2015 e 2019), Espaço Quadras Soltas (2016 e 2017), ambos na cidade do Porto; Bienal de Arte de Gaia (2017) e na Zet Gallery (2018), em Braga. Foi vencedor do 2º Grande Prémio CRIDEM (202), tendo-lhe sido atribuídas duas menções honrosas pela mesma instituição.

A exposição “As Peixonas”, na Casa Amarela, em Santo Tirso, estará patente até ao dia 30 de dezembro.

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