(Editorial) Tempos sombrios

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Estes dias cinzentos, chuvosos e frios de fim de outono só tornam mais sombrias as perspetivas de um implacável inverno. Já é deprimente saber que foi dissolvida a assembleia da República, que o governo em funções não estará em posição de exercer todas as funções de um governo e que a falta de orçamento nacional pode atrasar os investimentos para a recuperação e resiliência…Para agravar, também temos o alastrar da nova variante da covid, e a certeza de se saber pouco sobre a resistência que as vacinas nos terão proporcionado. Não confiamos na ciência? Ou será que temos de dar tempo para que a ciência se vá fazendo a par e passo com a progressão da pandemia? E assim alastra-se o pânico, quem sabe se infundado, institui-se o “apartheid das viagens” de que falou António Guterres e alarga-se o fosso entre países pobres e ricos enquanto vamos dando o braço à dose de reforço.

O rescaldo da luta interna do PSD na escolha do líder nacional acendeu outra luta pelos lugares elegíveis e, na luta concelhia do mesmo partido pela liderança local, as contas dos que apoiaram os vencedores nacionais saem baralhadas e, como já vai sendo hábito, os recentes eleitos autárquicos no município ficam mais uma vez de costas voltadas para a estrutura partidária.

“Como seria diferente se pudéssemos escolher o “nosso” deputado no nosso círculo eleitoral! Pelo menos podíamos interpelá-lo na rua para saber como nos representou”

Américo Luís Fernandes

As movimentações, dentro dos vários partidos, por uma posição nas listas distritais para as eleições legislativas, parecem mostrar que as escolhas dos futuros deputados dependem muito mais de critérios de fidelidade, de lealdade e de influência do que de competência ou provas dadas. Muito tempo depois do fim dos distritos, mantém-se a lógica dos círculos distritais. Como seria diferente se pudéssemos escolher o “nosso” deputado no nosso círculo eleitoral! Pelo menos podíamos interpelá-lo na rua para saber como nos representou sem que, como resposta, tivéssemos que ouvir que cumpriu o seu dever de seguir as instruções do chefe de bancada. Ora como o debate sobre os chamados círculos uninominais tem o condão de afrontar o estado atual das coisas e não convém ao sistema, provavelmente não será tema de campanha nem de promessas na quadra eleitoral que se seguirá às celebrações natalícias e de ano novo.

Nesta edição do Entre Margens estivemos, como é hábito, atentos aos eventos concelhios e locais, dando relevo à assembleia municipal pela importância que pode assumir na gestão municipal. E incluímos a primeira edição do já tradicional Suplemento de Natal, o que nos acarreta a obrigação de agradecer a colaboração de todos os anunciantes do jornal e de todas as entidades que permitem a sua concretização, fazendo votos de que a quadra natalícia se complete com a realização dos seus melhores objetivos de sucesso empresarial e social.

As festas natalícias, embora sujeitas a algumas restrições, já mobilizam e iluminam. Oxalá possam promover um reforço da esperança em tempos luminosos de paz e solidariedade.

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