[Crónica] Pode alguém ser quem não é?

CRÓNICAS/OPINIÃO Fátima Pacheco

Chegou o tempo das cerejas. O sol ilumina o nosso hemisfério norte e, embora saibamos que a chuva faz falta, ficamos na maior felicidade com este clima ameno e ternurento, esperando que o verão traga o calor que nos permite aproveitar a doce areia e aquele mar azul que nos abraça a cada mergulho. Só precisamos que a quentura da política não traga os fogos e ventos que assustam a população e criam azáfama aos nossos amados soldados bombeiros.

Está chegando a hora de eu regressar ao outro lado do Atlântico. O que irei encontrar? Lá o frio está começando a espreitar. Claro que nunca é tão gélido quanto no nosso país, mas como diz o paulista menos de 200C é muito frio, mesmo que durante o dia não precisem de agasalho.  Para contrastar o clima a política aquece o ambiente. Não há dia que não apareçam novidades: escândalos, mal dizeres, insultos, agressões. Vive-se tempos estranhos.

Depois da invasão dos Três Poderes, ou seja, da tentativa do golpe de estado, muitas notícias chegam aos mídia. Primeiro foram três lotes de joias sauditas, de valor incalculável, que sofreram a tentativa de desvio de finalidade (isso para não dizer poderiam ter sido surripiadas), depois a falsificação de boletins de vacinação em uma época em que esse documento tinha um valor inimaginável, há também valores que aparecem em domicílios em espécie ou em contas no exterior sem que se saiba a procedência. Além disso a política, que deveria ser algo de sério, tem sido tratada de um modo ligeiro, com tom de permanente desrespeito, saindo do plenário do congresso para as redes sociais. Tentativas de “lacração” (o nosso vocabulário está cada vez mais rico), de ridicularização de interlocutores. Em vez de discussão de ideias há insultos, o uso de palavrões, as ameaças a pessoas e instituições. Se, de um modo geral, já há sentimento de insegurança agora ela está sendo alastrada a outros setores sociais.

E como pode alguém ser quem não é só peço “a anjos e santos” que essa doença não se alastre ao nosso país. Precisamos de uma democracia forte que nos permita viver e ser cada vez melhores.

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