À boleia da demagogia, do medo e da mentira bem ensaiada, a direita e a extrema-direita —PSD, CDS, Chega e IL— asseguraram uma maioria superior a dois terços na Assembleia da República, o que representa um sério risco para os direitos e interesses dos trabalhadores. Independentemente dos arranjos parlamentares que se desenhem, seja com mãos de verniz liberal ou punho de ferro fascizante, essa maioria carrega um programa comum: o retrocesso social, a privatização do que é de todos, o ataque aos direitos, a promoção do individualismo egoísta, a divisão dos trabalhadores para melhor os explorarem.
A acompanhar os resultados eleitorais, cresce de forma inquietante a normalização do ódio, da mentira, do medo. Porém, quem observa com atenção percebe que o perigo maior não está apenas nas palavras gritadas ou nas provocações constantes. O verdadeiro perigo está nas estruturas de poder e nas práticas quotidianas que cultivam a resignação e punem quem ousa resistir.
É visível nas mudanças subtis — e perigosas — das mentalidades: quando um trabalhador que faz greve é rotulado de privilegiado ou calão; quando os que reivindicam direitos são acusados de ingratidão; a mulher que exige igualdade é acusada de ser histérica; o jovem que se manifesta é tratado como um delinquente.
É esta pedagogia retrógrada que se dissemina e se alimenta através dos bolsos fundos de quem nos quer fazer crer que a pobreza é culpa do pobre, que a falta de casa é culpa de quem a procura, que a doença é culpa de quem a sofre, que o atraso do país é culpa do trabalhador, que a falta de acesso aos serviços públicos é culpa do imigrante. Estão a semear a culpa pelas vítimas das políticas de direita, de modo a esconder que, por trás da miséria, está o lucro de alguém.
Um discurso repetido nas televisões, espalhado nas “redes sociais”, que pretende vender a narrativa de que o melhor é cada um tratar da sua vidinha, trancado na sua bolha digital, na sua angústia solitária, pois “o coletivo morreu” e lutar contra isto é inútil ou, pior ainda, inconveniente.
Porém, a realidade desmente-os e o coletivo vive onde há quem se recuse a desistir: sempre que os trabalhadores se organizam para não ceder à chantagem patronal; sempre que inquilinos enfrentam a especulação imobiliária; sempre que os jovens se unem contra a precariedade; sempre que funcionários públicos defendem o que é de todos; sempre que nos bairros e cidades se criam espaços de cultura, desporto e convivência – sementes de solidariedade e vida coletiva.
Será com essa gente que se constrói uma alternativa de verdade. Não uma ilusão vendida em embalagens novas. Uma alternativa feita com comunistas e democratas que não desistem da ideia de um país justo. Homens e mulheres que sabem que esclarecer é armar o povo com consciência, que informar é resistir, que organizar é transformar.
É preciso avisar toda a gente: os tempos que aí vêm exigem mais luta, mais consciência, mais militância. Contra os muros do ódio e do medo, levantemos as pontes da solidariedade. Contra o individualismo e o egoísmo, avancemos com o trabalho coletivo. Contra a resignação, afirmemos a coragem de resistir e transformar. Porque como dizia o poeta João Apolinário “por cada flor estrangulada, há milhões de sementes a florir”.
E nós aqui estamos para as semear. Informar, esclarecer, organizar. Resgatar a esperança e transformar a desilusão de cada um em ação e luta de todos. Essa é a tarefa. Esse é o caminho assumido pelo PCP e a CDU. Foi assim no passado. Será assim no futuro.