[Análise] Estatísticas apontam diminuição de sinistralidade na EN-105

ATUALIDADE

Dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária revelam a existência de menos acidentes com vítimas em toda a extensão da via, incluindo no troço que atravessa o concelho de Santo Tirso, entre 2019 e 2023.

É impossível escapar à Estrada Nacional (EN) 105. Para condutores e passageiros do Vale do Ave, entre Guimarães e o Porto, é uma via fundamental para todas as deslocações, serpenteando os rios Ave e Vizela, conectando populações e alimentando uma das regiões mais industrializadas do país.

É precisamente esse desenvolvimento ligado ao crescimento industrial exponencial durante meados do século XX que a transformou, ano após ano, num eixo viário repleto de problemas associados ao aumento do fluxo de trânsito.

As populações foram-se instalando ao longo do seu percurso, o número de veículos, ligeiros e pesados, cresceu dramaticamente, deixando de ser uma via que conectava populações, para ser uma via de perfil urbano praticamente em toda a sua extensão.

Esta mudança de perfil não foi acompanhada pela criação de alternativas mais cómodas para o grande fluxo de tráfego, até porque a geografia do território não permitia grandes oportunidades. Salvo raras exceções, como o caso da variante em Santo Tirso, o traçado mantém-se praticamente inalterado, apenas com intervenções específicas para facilitar a acessibilidade e melhorar a segurança em determinados pontos.

Todas estas especificidades tornaram a EN-105 como uma via vulnerável a sinistralidade elevada. A boa notícia é que essa distinção tem vindo a alterar-se e, como demonstram os dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), nos últimos cinco anos tem-se assistido a uma redução clara no número de acidentes, vítimas e feridos, sejam eles graves ou ligeiros.

Em 2019, foram registados 84 acidentes com vítimas na EN-105, em toda a sua extensão, resultando numa vítima mortal, 4 feridos graves e 129 feridos ligeiros. Por comparação em 2023, último ano com as estatísticas de sinistralidade a 24 horas completas, foram contabilizados 63 acidentes com vítimas, zero vítimas mortais, 7 feridos graves e 76 feridos ligeiros. Isto representa uma quebra de 25% no número total de acidentes com vítimas ocorridos na EN-105 num período de quatro anos e de 41% em termos de feridos ligeiros.

O que é também possível verificar é que os anos mais afetados pela pandemia, 2020 e 2021, não registam uma quebra fora do normal no que toca às estatísticas de acidentes. Representam uma quebra relativamente a 2019, mas em linha com a trajetória estatística com 72 e 76 acidentes com vítimas, respetivamente.

Guimarães e Santo Tirso com grande fatia da sinistralidade

Sendo os territórios onde a EN-105 está mais presente em termos de extensão, é natural que os concelhos de Guimarães e Santo Tirso açambarquem a maior fatia da sinistralidade rodoviária. Em território vimaranense, cruza as freguesias de Urgezes, Polvoreira, Nespereira, Conde, Moreira de Cónegos e Lordelo, enquanto do lado tirsense atravessa Vila das Aves, São Tomé de Negrelos, Rebordões, Santo Tirso, Carreira, Lamelas, Agrela e Água Longa. É, no entanto, também nestes concelhos que se verificam as quebras mais acentuadas nas categorias analisadas.

De acordo com os dados revelados ao Entre Margens pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, compilados a 25 de julho, relativos ao período 2019-2023, a quebra no número de acidentes com vítimas, em Guimarães, atingiu os 32%. Tendência verificável também na contabilização dos feridos ligeiros, passando de 70 para 47 registados, numa redução também de 32%.

Já em Santo Tirso, os números são mais flutuantes de ano para ano. Em 2019 foram registados 25 acidentes, em 2020 passaram a 32, em 2021 o valor reduz para 27, em 2022 volta a escalar para 34 até que em 2023 se fixa nos 23. Uma flutuação que não se repete nos números relativos a feridos ligeiros que apresentam uma tendência decrescente constante. Passou-se de 55 feridos ligeiros em 2019 para apenas 27 em 2023, ou seja, uma quebra superior a 50%.

Quanto à mortalidade e feridos graves, os números são residuais e ficam mais dependentes da gravidade de sinistros específicos. No período em análise, Santo Tirso registou quatro vítimas mortais, distribuídos pelos anos de 2020, 2021 e 2022. O mesmo acontece em Guimarães, onde foram registadas três vítimas mortais, uma por ano em 2019, 2020 e 2021.

A contabilização dos feridos graves segue a mesma tendência, com Santo Tirso a registar um total de 10 feridos graves no período em análise e Guimarães um total de 14 no espaço de quatro anos.

Apesar de Portugal ainda continuar como um dos países com mais mortes nas estradas, como demonstra um relatório do Conselho Europeu da Segurança nos Transportes, divulgado em junho deste ano, a tendência de decréscimo de sinistros e da sua gravidade é demonstrável também pelo que se passa na EN-105.

Anos de sensibilização de condutores e intervenções cirúrgicas nas vias para aumentar a segurança, fazem a diferença nas contas finais, mesmo quando o volume de tráfego e o número de veículos a circular não para de aumentar.

Mesmo assim, o caminho a percorrer é longo. A EN-105 estará perto de atingir o limiar da sua capacidade. Alternativas são necessárias, mesmo que não sejam óbvias ou simples de concretizar.

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