[Editorial] A solidariedade, fundamento da União Europeia

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Com as eleições para o Parlamento Europeu, que irão ocorrer no próximo domingo, cumpre-se um compromisso de solidariedade do nosso país na construção da comunidade europeia, que não sendo determinante no desenho das políticas europeias, é, pelo menos simbolicamente, demonstração da força da nova vocação europeia.

Não foi apenas Portugal que mudou, encerrando há cinquenta anos o ciclo do império. O século XIX caraterizou-se pela defesa dos territórios coloniais contra as políticas expansionistas das outras potências europeias. A primeira metade do século XX foi tempo de guerras na Europa e depois delas acabaram também as disputas imperiais, pela inevitável descolonização. As nações europeias voltaram-se para dentro e, com a visão inovadora de alguns líderes, definiram a união como caminho para a paz, uma conquista que se afigura segura no plano interno, mas difícil de garantir face a novas pulsões imperialistas no contexto externo.

A solidariedade entre países europeus que ponto fulcral da União é uma conquista que teve alguns casos precursores: cerca de 1950, muitas centenas de crianças austríacas oriundos de zonas afetadas pela segunda guerra mundial e em conflito fronteiriço junto da chamada “cortina de ferro”, foram deslocadas para Portugal por iniciativa da Cáritas e integradas em famílias portuguesas. O acaso trouxe o Werner Arthofer a S. Miguel das Aves e as boas recordações do acolhimento que então teve, trouxeram-no de volta, décadas mais tarde, a visitar aqueles que estimava como irmãos mais novos, se bem que deles tivesse conhecido apenas dois, quando da sua estadia em criança. O seu falecimento, na semana passada, com 83 anos, é motivo para reafirmar a ideia da solidariedade europeia. Solidariedade que, mercê da emigração e intercâmbio, tem hoje inumeráveis exemplos de famílias e gerações integradas de pessoas oriundas de países diversos.

 A construção da União não é tarefa fácil e, no dizer de conhecido comentador, a instituição democraticamente eleita que é o Parlamento Europeu, não é eficiente. Já a Comissão Europeia, que é eficiente, não é democraticamente eleita, sendo ela que define a política a adotar. E há questões essenciais, como é o caso da defesa que não são tópico de debate eleitoral e o peso relativo das forças políticas no Parlamento Europeu pode dificultar a elaboração de consensos.

 Ainda assim, votar será sempre um imperativo para a solidariedade europeia.

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