[CRÓNICA] Pode alguém ser quem não é?

CRÓNICAS/OPINIÃO Fátima Pacheco

Eleições legislativas? Outra vez? Fiquei em estado de choque. Procurei saber se lia jornal português ou brasileiro…Era em Portugal mesmo. Habituada a uma tranquilidade democrática bem diferente do que acontece aqui, pasmei. Mas vou voltar a focar neste pais continental cheio de belezas (e feiuras) mil.

Tenho vivido situações deveras inusitadas. O estado de São Paulo, onde resido, é um local onde a negritude não sobressai. Quem tentar conhecer o Brasil descobre uma imensidade de “brasis” dada a mistura de “raças” e culturas que coexistem.

Sempre escutei falar de diferentes escolas, entendendo-as como currículos diferenciados, estranhando as suas designações: escola rural, quilombola, indígena e a outra, aquela considerada principal porque é maioritária e que tem escolas municipais, estaduais, federais, cívico-militares e particulares. Estranhava o porquê dessa diferenciação já que estava acostumada a um currículo nacional comum no meu país de origem e nem me apercebia das nuances que poderiam e/ou deveriam existir e que têm a ver com a identidade das pessoas.

“Quem tentar descobrir o Brasil descobre uma imensidade de ‘brasis’ dada a mistura de ‘raças’ e culturas que coexistem”

Fátima Pacheco

Em um curso on-line, em que sou uma das coordenadoras, juntamos pessoas de diferentes lugares do Brasil. A tecnologia tem essa possibilidade, a de juntar pessoas de muitos lugares diferentes. Esse movimento tem-me ajudado a alargar meus horizontes. Descobrir o modo como o Brasil se constituiu enquanto nação, a importância dos povos originários na defesa intransigente das florestas, principalmente a amazonica, com uma cultura oral importantissima, da cultura negra que o homem branco europeu, devido ao racismo estrutural existente nesta sociedade, continua a confinar ao movimento escravagista, fazendo com que se ignore o continente africano como berço da humanidade, sua sabedoria ancestral e o quanto esta oportunizou o desenvolvimento civilizatório (principalmente agricola) no chamado “Novo Mundo”.

E como pode alguém ser quem não é… procuro apreender tudo o que nunca vi como estes olhos eurocêntricos e que quero muito dar a conhecer a partir destas minhas “cronicas”.

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