Pensar Vila das Aves com horizonte de 50 anos

ATUALIDADE DESTAQUE

Estudo do arquiteto Manuel Barata apresenta ideias e soluções para estruturar a malha urbana de Vila das Aves a longo prazo. Margens ribeirinhas, pulmões verdes, praças bem definidas e entradas da freguesia com melhor acessibilidade são os pontos fundamentais.

Entremos numa máquina do tempo. Vamos andar cinquenta anos no futuro. Estamos em Vila das Aves, 2071. Olhe à sua volta. O que vê? O exercício pode ser apenas uma espécie de ficção especulativa, mas para Manuel Barata, arquiteto, foi o ponto de partida para um plano que pretende não só resolver os problemas existentes atualmente como ajudar a estruturar e organizar a malha urbana da vila para o futuro.

Filho de Francisco Barata, arquiteto que assinou alguns dos mais emblemáticos edifícios da Vila das Aves moderna, Manuel tem uma relação desde que se lembra com a freguesia, quando ia para o terreno ver as obras do pai. Hoje, vê na Vila das Aves “uma tela com muito potencial e muitas oportunidades”. Aliás, não é qualquer terra que, “no espaço 500 metros, tem obras de três arquitetos que podiam ser Pritzker. Isso é extraordinário.”

Em conversa com o Entre Margens no seu atelier, localizado no coração da cidade do Porto, Manuel Barata passou a pente fino o plano em macro escala que produziu sobre a malha urbana de Vila das Aves. O objetivo, diz, foi tentar aproveitar as suas características intrínsecas, o que já existe, sem projetar grandes edificações externas.

“Para resolver os problemas urbanísticos da vila, já está tudo presente”, apontou. “Só precisa de ser potencializado”. Aliás, assinala, “é quase irónico que vilas ou cidades que não têm esta potencialidade, arranjaram um escape que estrutura a malha orgânica, porque não tinham nada onde se agarrar. Aqui é o oposto. Já há espaço verde. Já há margens de rio. Já há zonas patrimoniais para reabilitar. Falta dar o passo em frente.”

Esse passo em frente está sobretudo relacionado com três grandes vertentes: baixa e zonas ribeirinhas; acessos e entradas na vila; reorganização do centro e dos espaços verdes.

“É quase irónico que vilas ou cidades que não têm esta potencialidade, arranjaram um escape que estrutura a malha orgânica, porque não tinham nada onde se agarrar. Aqui é o oposto. Já há espaço verde. Já há margens de rio. Já há zonas patrimoniais para reabilitar. Falta dar o passo em frente”

Manuel Barata

Olhar os rios de frente

O regresso das comunidades aos rios que durante décadas foram sinónimo de poluição tem sido um desígnio dos projetos de intervenção urbana nos últimos anos. A Vila das Aves tem, intrinsecamente, características que lhe permitem encarar este desafio com uma dimensão a que poucas vilas se podem prestar.

Com o parque do Verdeal em construção avançada a que se junta o público interesse da câmara municipal em ligar através das margens do Ave e do Vizela este novo pulmão verde ao parque urbano Sara Moreira, está criada a oportunidade para que a população avense regresse aos locais que lhe dão nome.

O plano de Manuel Barata aponta esta zona como vital, não só para o reaproveitamento do rio, como também da ligação com o interior da vila, separada pela muralha da ferrovia, onde também o mercado poderia sair favorecido. “É preciso criar relações entre ambos os lados da barricada”, referiu o arquiteto.

A solução passaria por criar um novo perfil de rua e um alçado para a frente de linha “transformando uma muralha ferroviária numa muralha verde, como se fosse um símbolo preciso de entrada no parque”.

O passo seguinte seria precisamente a criação de um circuito de frente de rio que transformasse toda esta área em torno da vila que atualmente se encontra totalmente marginalizada, “num percurso verde e harmonioso onde são entrelaçados circuitos pedonais, cicláveis, equipamentos de apoio e possam assim definir os limites da vila”.

A juntar a estas propostas que hoje são praticamente consensuais, Manuel Barata propõem ainda a criação de um parque ribeirinho de Poldrães que possa aproveitar os ‘falados’ investimentos para a área fabril e acessibilidades da zona para fazer nascer um espaço com características diferentes.

[Ler Artigo Completo na Edição 677 do Jornal Entre Margens]

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