Na tranquilidade do lar, encontrei velhos livros. Em 2015, Laurentino Gomes publicou pela GloboLivros, a Edição Juvenil Ilustrada “1889 – Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil”. Recordo que na primeira leitura fiquei encantada com a escrita do autor, mas não lhe dei a importância que hoje me apraz. Natural que não se conheça a obra por cá, tratando-se de fatos históricos de outro país não faz parte do imaginário português. A História de cada país é contada segundo os atos heroicos de cada um e, por isso, têm leituras completamente distintas.
Pelo subtítulo se entende como foi a destituição da monarquia brasileira… o exército (sempre o eterno exército) tomou o poder e agregou consigo alguns intelectuais, republicanos e pessoas insatisfeitas com a economia vigente.
Ao longo do livro é relatado o modo como as mudanças aconteceram ao longo dos tempos. Parece ser sina do Brasil viver com frequência golpes políticos, que parecendo ser tranquilos, deixaram rastos de sangue. Mesmo assim, as reformas políticas foram ténues e sempre a favor daqueles que já muito tinham. A população pobre, principalmente os negros, foram abandonados à sua sorte, afastados dos grandes centros urbanos, criando as bolsas de miséria que a maioria da população não se sente responsável. As Forças Armadas tiveram sempre um papel relevante nas revoltas, foram adquirindo ao longo dos tempos força política – recorde-se a ditadura de 1964-1985 que ainda hoje alguns afirmam não ter sido um golpe militar, mas uma revolução para afastar a ameaça comunista, e no presente narrativa daqueles que não aceitam os resultados eleitorais. Esquecem, entretanto, referir que naquele período o autoritarismo, a censura, a tortura eram as práticas comuns daquele governo.
Esta leitura fez-me compreender os acontecimentos dos últimos 4 anos no Brasil, o que esperavam com a invasão da Praça dos Três Poderes, o comportamento do povo em 1964, e na atualidade pois como Freud afirma “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas (…) porque o que os indivíduos da massa compartilham é a ilusão de serem amados/odiados pelo líder, justamente esse que não ama ninguém.”
E como pode alguém ser quem não é… fico com a esperança de que esse malnão toque a esta porta e que não ressurja por cá esse tipo de “liderança”.