Vivem-se tempos em que a rotina e a incerteza convivem numa relação dialética, em decorrência de uma dinâmica de mudança constante de emprego ou habitação, propiciando sentimentos de esvaziamento completo em todos os sentidos (moral, social, cultural ou político). O dia-a-dia em ritmo automático, alinhado à cadência das máquinas, executando-se, várias vezes, um mesmo movimento, é partilhado com horas infindáveis em frente ao ecrã do computador ou do telemóvel, em solidão, por vezes, sem laços de afinidade.
Neste contexto, desnorteante e deprimente, a Festa do Avante aparece como desvio ou alternativa, que responde a uma necessidade de encontro, efervescência, e também de expressão: expressão de desejos, de identidades, até de resistência, portanto, expressão política.
Aí pertencem todas as formas de expressão artística: a música, o cinema, o teatro, as artes plásticas, a dança tradicional e contemporânea; todos os lugares, culturas, comidas e bebidas: da gaita-de-fole mirandesa até à orquestra sinfónica, passando pela música eletrónica; da sopa de cação à cachupa ou da poncha ao mojito cubano; bem como todos os sotaques e suas expressões: bica e cimbalino, fino e imperial;
“Na festa não cabem visões restritivas e formatadas, no sentido do esmagamento de identidades, mas a promoção da sua diversidade e abertura, como características indissociáveis do desenvolvimento integral da pessoa”
Na Festa não cabem visões restritas e formatadas, no sentido do esmagamento de identidades e culturas, mas a promoção da sua diversidade e abertura, como características indissociáveis do desenvolvimento integral da pessoa. Nem cabe a vida “contida”, feita de segregações, proibições, restrições, medos e opressões. Por sua vez, construímos juntos um espaço onde as diferenças se estabelecem livremente.
Desde a sua implantação até ao final, “cada fio de vontade são dois braços e cada braço uma alavanca” (letra do Hino de Caxias). Quando cruzamos as barreiras do recinto, sente-se a solidariedade em permanência, impregnada numa relação iminente com o outro e manifestada pela forma como nos reconhecemos em cada troca e conversa pela palavra camarada. Logo vemos que aí se ensaia o projeto de um mundo melhor, assente em trocas de experiências sem fronteiras sociais, com vista ao pleno e livre desenvolvimento de cada um. Há uma comunhão de ideias e de fraternidade, sem distinções sociais, de género ou idade, em que todos contam e se afirmam.
A democracia é condição natural da festa e uma constante, experienciada em todos os níveis, quer na distribuição de tarefas entre os militantes e companheiros que ali contribuem com o seu esforço, quer na realização dos mais variados debates. É, em particular, um lugar onde o povo se apodera da palavra, e uma arma carregada de futuro. E a demonstração que a luta por um ideal também é alegria, podendo encher-se de cor, bandeiras e tambores, em que se dança e canta ao som contagiante da Carvalhesa.
Por isso, venham todos, pois não há Festa como esta!