Há algum tempo, diversos políticos tirsenses espoletaram uma discussão sobre a chegada do Metro do Porto a Vila das Aves, passando por Santo Tirso, vindo da Trofa. De facto, creio que nunca os avenses reclamaram este equipamento. Porém, pedir não custa e ninguém se oporia a tal obra, já que, na realidade, seria uma mais-valia para o concelho. Contudo, a curto/médio prazo, cremos que serão poucos os que acreditam que este transporte público chegue à margem direita do Vizela, dado que nem à Trofa chegou. E esta última cidade, em 2001, viu a sua via férrea, que a ligava até à Trindade, ser inutilizada, com a promessa de ser transformada em metro e de ali vir a ser edificado um terminal…
Ultrapassado este assunto, cremos que é de admirar o silêncio tirsense em relação a algo que muito nos pode afetar num futuro próximo: o eventual abandono do projeto da ligação ferroviária entre Guimarães e Braga, um pequeno troço de apenas 16km. Este projeto corre o risco de ser substituído por uma ligação de metrobus entre as duas cidades. Na verdade, sem esta ligação de comboio, que duraria apenas 10 a 15 minutos a percorrer, perde-se a oportunidade de integrar Santo Tirso num pentágono ferroviário circular que serviria 579 000 pessoas, nomeadamente os 23 000 habitantes de Vizela, os 156 000 de Guimarães, os 200 000 de Braga, os 133 000 de Famalicão e, obviamente, os 67 000 de Santo Tirso. O abandono da construção desta ferrovia prejudicaria, por muitos anos, a mobilidade tirsense já que, se for construída, possibilitaria: a) a ligação direta de comboios urbanos de Santo Tirso a Braga, via Guimarães; b) ligações a comboios urbanos mais rápidos que, entre Braga, Guimarães e Porto, só parariam nas estações mais movimentadas; c) a possibilidade de haver comboios destinados a circular, unicamente, neste perímetro pentagonal, em que habitam 579 000 pessoas; d) a ligação a comboios Intercidades que, no percurso Braga – Guimarães – Porto – Lisboa, parariam, pelo menos, em Santo Tirso, Vizela e Guimarães; e) e a ligação de Alfas Pendulares que, em idêntico percurso Braga – Guimarães – Porto – Lisboa, parariam também em Santo Tirso, Vizela e Guimarães.
Por outro lado, com a opção de construir o metrobus, entre as duas maiores cidades do Baixo-Minho, perde-se também uma oportunidade de melhorar a nossa qualidade de vida, tanto ao nível ambiental como naquilo que diz respeito aos níveis de segurança rodoviária das vias em que circulamos. Tirar carros das estradas é urgentíssimo, tal como reduzir a quantidade de emissões de monóxido de carbono. Portugal tem 7 milhões de automóveis. Só nos últimos três anos, passou a ter mais 450 000. Na nossa região, as nacionais e as autoestradas estão saturadas. Cada uma das composições do Alfa Pendular, com os seus 301 lugares, quando vai do Porto a Lisboa, subtrai, no mínimo, 200 carros à A1. No mesmo percurso, cada composição do Inter Cidades, com os seus 600 lugares, retira, no mínimo 400 veículos da mesma rodovia. Cada comboio urbano do Porto possui 615 lugares. Na Linha de Guimarães, andam repletos. Assim, por cada vez que uma das suas composições aqui passa, nas horas de ponta, retira cerca de 400 ou mais carros da EN 105 e da A3. E são vários os que circulam pelo concelho: de manhã, em direção ao Porto, entre as 6h27m e as 10h27, são seis. Logo, só nesta direção e horários, subtraem, mais ou menos, 2400 veículos da EN 105 e da A3. Como é óbvio, ao final do dia, a situação é idêntica, mas em sentido oposto.
Nos últimos anos, com o aumento do preço da habitação no centro das cidades, a procura de comboios urbanos cresceu, sendo agora bastante superior em relação ao que era há 10 anos atrás. O número de pessoas que veio viver para as periferias e que agora se desloca, diariamente, para o centro, para trabalhar, é elevado. A escalada dos preços do aluguer de quartos, junto às universidades, reduziu o número de alunos que pernoitavam em redor destes estabelecimentos de ensino. Assim, a quantidade de estudantes a circular, diariamente, nos comboios é também muito maior do que há 10 anos. Na A3, se analisarmos a saída do Hospital de São João, percebemos que, por muito que façam obras de alargamento na rodovia, não há solução possível. Se tivermos em conta as várias dezenas de milhar de pessoas que vão todos os dias para o Campus Universitário da Asprela, certamente que qualquer técnico de geografia ou urbanismo consideraria que a criação de um ramal ferroviário, até este ponto do norte da cidade do Porto, seria uma obra sensata.
A decisão de substituir o metrobus pelos 16km de ferrovia entre Braga e Guimarães, é uma solução diminuta, que só remedeia o presente e prejudica Santo Tirso e os concelhos já referidos. De facto, adia um verdadeiro investimento estratégico que muito valorizaria as ligações entre o Porto, Braga e o Vale do Ave. Tal como o resto do país, o olhar estratégico do nosso inconsciente, está sempre focado no Porto e no litoral, descurando tudo o que fica a leste, mais a interior. Todavia, há uma grande economia circular entre os concelhos que constituem o eixo Vale do Ave – Braga. Além disso, são inúmeros os alunos de Santo Tirso e concelhos limítrofes, que frequentam a Universidade do Minho (que cresce e ganha cada vez mais importância), que não poderão usufruir de uma ligação direta até junto dos polos desta instituição, através de um meio de transporte simples, eficaz e acessível.
Apostar na via-férrea é o próximo passo que Portugal, obrigatoriamente, terá de dar ao nível ambiental. Investir biliões na alta velocidade para substituir aviões é importante, mas não chega. Esta pequena ligação de 16km é um exemplo disso.