[Opinião] O puzzle está montado

CRÓNICAS/OPINIÃO Rui Baptista

Agora, após as eleições, temos o puzzle do novo Parlamento montado. Desta vez as sondagens não se enganaram e os resultados não foram muito diferentes do que se anteviam. O PSD ganhou por poucos e o PS perdeu por muitos. O PSD + CDS teve mais 159 557 votos que em 2022 e o PS perdeu 487 866. Por seu lado o Chega ganhou 770 326 votos face a 2022 atingindo mais de 1,1 milhões de eleitores.  Será que Portugal tem 1,1 milhões de xenófobos e racistas? Não me parece, tem sim muita gente descontente com o estado das coisas e decidiu votar num partido de protesto.

O que os resultados nos mostram é que o PS foi o que mais perdeu e que houve uma clara transferência de votos do PS para a direita, PSD e Chega, e não para os partidos da esquerda.

Como aqui escrevi em fevereiro passado, o PS foi quem mais contribuiu para o crescimento do Chega no espaço mediático. António Costa tinha a estratégia de empolar o partido de André Ventura e com isso o PSD nunca conseguiria formar uma maioria de direita sem o Chega, mas nestas eleições vimos que o próprio PS foi vítima dessa estratégia e perdeu uma parte do seu eleitorado precisamente para o Chega.

É certo que o PSD, não querendo governar com o Chega, ficou também numa situação complicada, porque com a IL não tem maioria e fica encurralado entre o Chega por um lado e o PS por outro.

Em fevereiro também falei aqui sobre aquilo que é o Chega, disse que um voto neles seria um voto no PS, porque não são gente confiável, onde se possa fazer confiança para um Governo, e esta semana mal começa a legislatura o Chega disse ao que veio.

Para já o PSD teve uma atitude correcta ao corroborar o que prometeu na campanha do “não é não” e apesar das enormes dificuldades que vai ter, não serão melhores do que sujeitar-se a um acordo com a trupe de André Ventura.

Ao longo destas semanas temos assistido, não só aos deputados do Chega, mas a muita gente a dizer que não se pode ignorar nem desrespeitar 1,1 milhões de eleitores. Ora ignorar não se pode, nem deve, todos tem o dever de perceber o que estes portugueses quiseram ao votar em André Ventura, não são só os Portugueses anti-sistema, mas muita gente normal que está descontente com o sistema e que quis dar um sinal aos partidos que nos tem governado nestes últimos 50 anos.

O Chega tem agora um desafio que é difícil, pois passou a ter uma base eleitoral que espera também que seja um partido de soluções governativas, mas pelo que vimos vai preferir o confronto e a vitimização, esperando que continue a crescer de eleição para eleição, veremos se essa estratégia funciona.

O PSD tem uma tarefa difícil e poderá ter uns meses de paz até que o PS se afirme na oposição, mas não terá descanso por parte do Chega.

Apresentou para já um Governo melhor que o expectável, difícil de montar, mesmo para muitos que lhe dão um prazo de validade de seis meses.

Veremos se o Governo consegue nos próximos seis meses consolidar uma imagem de reformista e capaz de mudar o que é mais urgente e aí condicionar o PS e o chega na aprovação do Orçamento de Estado.

Uma coisa é certa, nos 50 anos do 25 de Abril, o sistema político Português mudou e acabou com o bipartidarismo.

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