Adoro o Messi. Para mim é o melhor jogador de todos os tempos.
Não estou sozinho nesta opinião. Em Portugal, no entanto, parece um sacrilégio afirmá-la. Tudo deriva da rivalidade Ronaldo vs. Messi que nos acompanha há uns 16 anos.
À primeira vista, a suposta imoralidade de preferir Messi, e até de gostar dele, parece residir no facto de o Ronaldo ser português e o Messi não.
É um critério, por si só absurdo. Nenhuma nacionalidade garante, por inerência, maiores ou menores capacidades para jogar futebol. Portanto, do facto de um jogador partilhar o mesmo espaço geográfico que o nosso não é possível concluir que seja melhor do que aqueles cuja origem se situa além da fronteira. Ademais, se fosse o caso, a discussão não se reduziria a Ronaldo vs. Messi, alargando-se a outros jogadores.
O que está implícito no raciocínio é mais do que isto. Ronaldo e Messi estão num patamar semelhante, no qual concorrem pelas mesmas coisas. Como tal, ao abrigo desta tese, devíamos torcer pelos “nossos”. É aí que entra a questão da nacionalidade.
Mesmo que aderíssemos ao argumento, a este subjaz a confusão entre dois aspetos distintos: entre a “forma como percecionamos o mundo” e “como desejamos que o mundo seja”. Por outras palavras, não tenho dúvidas que muitos portugueses “desejem” que o Ronaldo seja melhor do que o Messi, mas o desejo não garante (era bom era!), por si só, que seja necessariamente assim.
Ou seja, é preciso separar os nossos desejos das nossas opiniões. Estes podem ser contrários e simultaneamente conciliáveis. Eu já dei por mim a torcer para que o Ronaldo ganhasse bolas de ouro, em detrimento do Messi, mesmo considerando o argentino melhor.
Quando os argumentos se esgotam, sou acusado, não raras vezes, de antipatizar com o Ronaldo. Isto, o meu juízo em favor de Messi seria conspurcado por um “enviesamento anti Ronaldo”. É curioso que essas pessoas, tão rápidas a apontar-me tal enviesamento, nunca coloquem, para elas próprias, a hipótese de pensarem o contrário devido a um “enviesamento patriótico”.
Não é verdade que não goste do Ronaldo. Acho-o um jogador extraordinário, dos melhores de sempre. Não é preciso odiar um para gostar do outro. Também gosto do Garcia Márquez e isso não implica não gostar do Saramago. Aliás, somos uns privilegiados por termos podido desfrutar de dois jogadores extraordinários. Lamento que algumas pessoas tenham abdicado desse privilégio em nome de um maniqueísmo pueril.
Volto ao início. Adoro o Messi. Nunca vi um jogador tão bom. Personifica o tipo de jogador que sonhávamos ser, em miúdos, quando jogávamos à bola. O jogador que dribla o mundo, marca golo e sai do campo em glória. Messi foi o mais próximo que encontrei desse ideal. Um autêntico poema deambulante. Não é uma verdade absoluta. Apenas a minha opinião. Cada um terá a sua.
Por isso, uma vez que Portugal foi eliminado, não posso esconder o meu contentamento pelo título mundial da Argentina. Já podemos gostar do Messi? Se gostarmos de Futebol não temos outra hipótese.