Começou, no dia 21 deste mês, o mundial de futebol de 2022. Este ano realiza-se no Qatar e pelo desrespeito brutal dos direitos humanos neste país é já conhecido pelo “Mundial da Vergonha”. Durante a construção dos estádios, nos quais milhares de olhos estarão postos durante os jogos, morreram mais de seis mil trabalhadores. Praticamente todos oriundos de países como o Bangladesh, Nepal ou da Índia. Morreram pelas condições desumanas nas quais tinham de exercer o seu trabalho. Muitas destas mortes, foi já demonstrado, resultaram diretamente do calor extremo a que estes trabalhadores foram submetidos durante o seu trabalho.
Trabalhadores obrigados a trabalharem em jornadas por vezes de 12 a 14 horas por dia, seis dias por semana. Depois de inúmeros casos de maus-tratos a trabalhadores conhecidos, como se aceita lá realizar um mundial? Num país sem qualquer tradição futebolística para que servem a construção de tantos estádios que tanto sofrimento a trabalhadores causaram?
O Qatar é conhecido por ter das maiores reservas de gás e de petróleo. É assim das maiores representações atuais da supremacia dos combustíveis fósseis. É também dos maiores emissores de gases com efeitos de estufa. Depois de líderes mundiais estarem reunidos na COP27 para discutirem o futuro no combate às alterações climáticas, é o Qatar o seu próximo destino?
“Quando estivermos a assistir a um jogo de futebol do mundial, não nos esqueçamos da escravidão de milhares de trabalhadores, da opressão de mulheres, do ataque ao planeta Terra e às nossas condições de vida. Quando assistirmos a um mero jogo de futebol estamos sim a assistir ao absoluto desprezo pelos direitos fundamentais e pela dignidade humana”
O Presidente da República Portuguesa proferiu na última semana declarações profundamente lamentáveis sobre este mundial. Marcelo Rebelo de Sousa disse o seguinte: “O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal…, mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio” A Amnistia Internacional de Portugal já veio a público condenar as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente, assim como o Primeiro-ministro e o Presidente da Assembleia da República, já confirmaram que irão representar Portugal neste mundial.
O Bloco de Esquerda já veio a público pedir para que nenhuma figura do Estado se desloque ao Qatar para assistir aos jogos de Portugal. A presença destas figuras irá legitimar uma organização que tirou a vida a milhares de trabalhadores e que não respeita direitos e liberdades fundamentais. Uma maioria no parlamento seria o necessário para impedir que o Presidente da República fosse ao Qatar. Infelizmente a maioria existente, do Partido Socialista, não parece ter nos direitos humanos mais fundamentais a sua maior preocupação.
Assim, no próximo mês de novembro, quando estivermos a assistir a um jogo de futebol do mundial, não nos esqueçamos da escravidão de milhares de trabalhadores, da opressão de mulheres, do ataque ao planeta Terra e às nossas condições de vida. Quando assistirmos a um mero jogo de futebol estamos sim a assistir ao absoluto desprezo pelos direitos fundamentais e pela dignidade humana.