Desportivo das Aves faz história e vence primeira Liga Revelação

ATUALIDADE DESPORTO

Equipa sub-23 empatou a uma bola frente ao SC Braga e beneficiou do empate do Rio Ave para confirmar a conquista da primeira edição da Liga Revelação.

Em jogo de nervos à flor da pele que nenhum dos três candidatos a conquistar o troféu da primeira edição da Liga Revelação conseguiu esconder, Rio Ave e Desportivo das Aves estiveram a segundos de se tornar os vencedores. mas no final, com poucos segundos para cumprir no cronómetro, a sorte sorriu ao Aves.

Leandro Pires, treinador da equipa de sub-23 do CD Aves, na primeira pessoa:

“Êxito, para mim, é a contínua evolução dos jogadores”

Aos comandos das tropas está um histórico avense,Leandro Pires. Com uma década de camisola avense ao peito, o ex-lateral direitoregressou à sua “casa do futebol” para agarrar nos jovens talentos e fazerdeles uma equipa de verdadeiros profissionais de futebol.

O técnico de 39 anos, de voz suave e personalidade acondizer, vai conduzindo esta equipa, sem pressões desproporcionadas, para umaconquista que a confirmar-se ficará nos registos do futebol nacional.

Estava à espera dese encontrar nesta situação, na liderança da tabela classificativa a quatrojornadas do final?

Quando iniciamos um trabalho, iniciamos sempre com oobjetivo de fazer o melhor possível. Há muita qualidade no plantel e com opassar do tempo vimos que era possível lutar pela segunda fase e mesmo pelotítulo. Estamos numa posição que nos permite alcançar esse objetivo.

O Augusto Ináciotem-lhe tecido rasgados elogios publicamente, não só pelos resultados, mas pelaforma como tem trabalhado as peças do puzzle. Como é que funciona a ligaçãoentre a equipa de sub-23 e o plantel principal?

Falamos pontualmente sobre o que se passa nos sub-23 ea verdade é que o mister Inácio tem aproveitado bem alguns valores que aquitemos. E mesmo nós temos utilizado alguns jogadores da equipa principal que têmfeito um bom trabalho connosco. Jogadores que descem ao nosso plantel com aambição e com o objetivo de ajudar este grupo de jovens. Tem resultado bem.

Naturalmente estásatisfeito com por ver alguns jogadores dos sub-23 a vingar no plantelprincipal, como o Luquinhas ou o Miguel Tavares, entre outros. Isso para si ésinónimo de missão cumprida?

Sem dúvida. Aliás, é o nosso objetivo principal dossub-23: preparar os jogadores para a equipa principal, o que se tem vindo arevelar verdade. O Ivanilson, o Bruno Lourenço, o Zidane Banjaqui também jáintegraram os treinos da equipa principal e o feedback que temos é que osjogadores têm feito um bom trabalho.

Por isso é um motivo de orgulho, perceber que osjogadores chegam lá, não só pelo facto de terem valor individual, mas por estarempreparados para integrarem um processo diferente. O importante é que osjogadores percebam o jogo, porque se perceberem o jogo vão perceber maisfacilmente o que cada treinador lhes pede.

É nessa faceta deperceção e entendimento do jogo em que mais se foca nos trabalhos do plantelsub-23?

Exatamente. Um jogador que percebe o jogo percebe-o emtodos os contextos. Se os sujeitarmos a muitas tarefas durante o treino, elesestarão mais preparados para enfrentar um jogo que tem muitos fatoresaleatórios. Se eles perceberem o que se está a passar em cada momento, vãoestar mais preparados para lidar com esse tipo de situações, uma vez quedesenvolvem a inteligência para tomar as melhores decisões em função doscontextos.

Nesta espécie devaivém entre os sub-23 e a equipa principal, como é que se faz esta gestão deexpectativas dos próprios jogadores?

Essa é a tarefa mais difícil. Lidar com as ambições e osobjetivos individuais de cada um, porque todos eles são jovens e todos elesmerecem a sua oportunidade. Temos que trabalhar gerindo essas expectativas, mastambém trabalhando para um processo coletivo forte, tentando envolver toda agente da mesma forma. Claro que alguns têm mais oportunidades que outros, masisso é o futebol.

Oportunidade nofutebol pode surgir e desaparecer num ápice. Portanto ter a oportunidade defazer um, jogo ou um treino na equipa principal cria um elã diferente nosjogadores.

O jogador que tenha uma oportunidade em jogo é porquea conquistou no treino. As oportunidades conquistam-se assim. Se treinarem bem,estão mais perto de jogar. Se depois corresponderem às expectativas estãosempre mais perto de estar no onze e logicamente de chegar à equipa principal.

Temos jogadores, por exemplo, que iniciaram a época efizeram grande parte da primeira fase sem serem convocados que entretanto jáchegaram à equipa principal. Isto é uma questão de crescimento e de trabalhodiário para irem evoluindo enquanto jogadores.

Esta movimentaçãode jogadores dificulta-lhe vida na preparação dos jogos ou isso já faz parte doesquema e portanto está interiorizado?

Temos que nos habituar e pensar nisso com a levezapossível e da forma mais natural. Se os jogadores que têm mais qualidadeestiverem bem integrados num processo coletivo, têm mais facilidade em jogar eser chamados à equipa principal. No entanto, nunca descuramos a gestão dogrupo, porque o espírito e a união de grupo são o mais importante numa equipade futebol. Um grupo que seja unido dentro de campo, solidário, forte, estarámais perto de alcançar os objetivos da equipa. Se toda a gente se sentir útil,não são só os onze que vencem, são todos.

Fez perto de 250jogos pelo Clube Desportivo das Aves. Sente-se de alguma forma como um guardiãodos valores e do espírito avense? Sente que os jogadores olham para si como umafigura do clube e isso tem significado para eles?

Eu não sei eles se lembram muito da minha passagemaqui no clube (risos). Eu cheguei cá com 26 anos e acabei por fazer muitosjogos no clube. Encontrei aqui uma família que partilhava e praticava osvalores com que me identificava. Acabei por ficar durante dez anos enquantojogador de futebol e sempre me senti em casa, mesmo no relacionamento com aspessoas da vila.

Este meu regresso foi como voltar a casa. Não diriaque me sinto confortável, porque confortável pode dar aso ao comodismo, masconheço bem a casa, conheço bem os valores que são praticados aqui e eu,enquanto treinador, tento incutir um forte sentido de espírito de grupo, uniãoentre jogadores, a garra com que se joga no Aves e que os adeptos gostam dever.

A exigência tem que ser essa, porque se formos aosnossos limites depois a nossa qualidade consegue transpor-se para o campo. Senão formos ao nosso limite, nunca vamos conseguir dar tudo o que temos paradar. Não me sinto o guardião de nada, mas tento passar a mensagem dos valores edos princípios que estão imbuídos neste clube.

O facto de tersido jogador profissional durante tantos anos facilita o contacto e acomunicação com os jogadores?

Eu acho que facilita sobretudo no âmbito dacomunicação não verbal. Nós, ex-jogadores, conhecemos o balneário. E conhecer obalneário é conhecer as emoções de quando se ganha e quando se perde. Alinguagem não verbal é a mais fácil de verificar quando se partilha obalneário, porque nos apercebemos perfeitamente o que eles estão a sentir,mesmo quando não dizem nada.

Que análise faz àLiga Revelação enquanto competição na sua primeira edição. Pensa que esta é umaprova para ficar, que os clubes e os jogadores estão interessados?

Sem dúvida alguma que é uma competição que tem muitovalor. Primeiro porque é uma competição profissional que está muito bemorganizada. Depois, ocupa um espaço nesta transição de juniores para seniores ondemuitas vezes os jogadores se iriam diluir em clubes de menor dimensão e que nãotêm as mesmas condições de trabalho como existe nesta liga Revelação. Osjogadores acabavam por desmoralizar e não conseguiam demonstrar toda a suaqualidade.

Nesta Liga Revelação existem boas condições detrabalho na maior parte dos clubes, existe profissionalismo na área médica, porexemplo, e os jogadores sentem-se muto apoiados. Não lhes falta nada e com istoo jogador tem um espaço melhor para dar o seu máximo e atingir o seu potencial.

Depois, competimos contra jogadores de grande valor,de equipas grandes. Com a integração de jogadores mais velhos, muitas vezes dasequipas principais, consegue-se ter uma competitividade maior. Dá paraperceber, nesta transição de juniores para seniores, os jogadores que realmentetêm uma margem de progressão maior e a mantê-los próximos do futebol de maisalto nível.

Havia quemquestionasse a criação da liga Revelação devido à existência das equipas B nasegunda liga. Pensa que isso é algo que se está a desfazer com o passar dasjornadas?

Sim. Já há mais clubes interessados em competir nesta prova,porque é bom para o crescimento dos jogadores, ter este espaço para competiremnuma liga que tem muita qualidade muita intensidade. A Federação Portuguesa deFutebol pensou também nisso, na intensidade de jogo que se pratica. E havendointensidade e qualidade, o jogador fica mais perto de atingir os níveis deexigência das principais ligas.  Asequipas B, para os clubes de maior dimensão, serviam para isso, mas agoraexiste aqui um leque de clubes que optaram pela liga revelação para ocupar esseespaço.

O Aves tem sidouma das equipas que melhor aproveita esse espaço de progressão de jovensjogadores para depois aplica-los à equipa principal.

O Aves está aproveitar jogadores para a equipaprincipal quer a nível de treino, quer as convocatórias. Há mais equipas que ofazem, por exemplo, o Belenenses tem um jogador que tem estado em destaque.Depois, há clubes em que obviamente não é tão fácil dar esse salto para aequipa principal.

Pensa que esse aproveitamentode jogadores por parte do Aves ou do Belenenses pode estar ligado com a própriadimensão dos clubes, ou seja, estas equipas de sub-23 serem mais úteis a clubesde menor dimensão do que aos ‘grandes’?

É possível que assim seja. Depois há também a questãoque os clubes terem que pensar em futuros negócios. Temos tido observadores declubes estrangeiros em jogos da liga Revelação. Isto pode ter uma componente denegócio para futuras mais-valias para os clubes. Neste espaço, um jogadorquanto mais jovem for e mais qualidade tiver, mais valioso será. O Aves aofazer este trajeto de aposta nestes jovens, penso que poderá acrescentar valorpara o futuro a nível financeiro.

Falámos da ligaçãocom a equipa sénior, mas o Aves tem uma formação com muitos escalões e muitosjogadores. Existe essa ligação também a equipa de sub-23 e a formação júnior?

A ligação é a mesma. Também nós temos chamado algunsjuniores para treinar nos sub-23. Logicamente, não podemos aumentar muito onúmero de jogadores para que depois o processo de treino possa resultar comfluidez. Temos o André Duarte e o Diogo Baptista a treinar connosco há algumtempo e já chamamos outros atletas juniores para integrarem o treino porqueexistem, sem dúvida alguma, mais-valias nos juniores para no futuro inserir nossub-23 e quem sabe depois fazerem o trajeto até à equipa principal.

Ganhar a primeiraedição da Liga Revelação seria fazer história e ficar nos registos do futebolportuguês. Ao entrar para esta última fase da época, pensa nesta forma ou issoainda não lhe passa pela cabeça?

Não, de tudo. Estamos focados no nosso dia a dia,essencialmente o próximo jogo. Penso que se começarmos a olhar para o longoprazo, esquecemo-nos das tarefas diárias. No futebol, sabemos, tão rápido seestá em alta como de repente as coisas desmoronam-se. Pensamos jogo a jogo, nonosso quotidiano, com o foco no próximo adversário e nas formas de o encarar damelhor forma. A partir daí, veremos até onde podemos ir.

Posso deferir dassuas palavras que ainda não há uma tabela classificativa no balneário.

(risos) Não, de forma alguma.

Sente nosjogadores do plantel que treina, que o facto de estarem no topo da tabela eterem esta possibilidade de vencer uma competição, os está influenciar dealguma forma?

Isto pode influenciar de duas maneiras, positiva ounegativamente, porque pode aumentar os níveis de ansiedade e nós aqui nãoqueremos que isso aconteça. O nervosismo não se pode apoderar dos jogadores,por isso tentamo-nos focar nas nossas tarefas diárias, sem olhar a longo prazoe tentámos que a equipa esteja equilibrada emocionalmente.

Quem viu o jogocontra o Benfica pode atestar a tenacidade e motivação dos jogadores.

Sem dúvida, mas o que eles fizerem será fruto do trabalhoque têm vindo a desenvolver. Se eles não estivessem preparados, nuncaconseguiriam chegar aquela vitória. Só que no futebol, tudo acontece muitorápido e ainda no último jogo não conseguimos vencer porque sofremos um golo nacompensação. O essencial é que a equipa se mantenha equilibrada, para que sejao trabalho a conduzir-nos ao êxito. Agora, com a maneira como a equipa sededica, como a equipa acredita, e com a tremenda ambição destes jogadores, acreditamosque podemos vencer todos os jogos.

Acabou de utilizara expressão êxito. No final desta temporada, o que é para o Leandro Pires, alcançar o êxito?
Para mim, êxito é a contínua evolução dos jogadores como têm feito durante este trajeto de alguns meses. Os jogadores cada vez percebem melhor o jogo, cada vez estão mais preparados para serem inseridos em plantéis profissionais. Isso é o êxito. Depois, as vitórias ou derrotas dependem de pormenores.

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