Diretor Executivo do SNS garante que a decisão está tomada, mas que efetivação depende de um acordo entre as partes que “exige um trabalho negocial intenso”. Ministra da Saúde reuniu com novo conselho de administração da ULS do Médio Ave.
Um ano após o anúncio do primeiro-Ministro, Luís Montenegro, sobre a devolução do hospital de Santo Tirso à Santa Casa da Misericórdia, o processo parece não ter saído do sítio. Num ano marcado por protestos, sejam dos trabalhadores, partidos políticos à esquerda e até da Câmara Municipal, dos apoios à direita e de uma posição irredutível por parte do Ministério quanto à sua vontade, a transferência não só não se efetivou como continua num limbo administrativo. Não ata, nem desata.
À margem da visita da Ministra da Saúde ao hospital de Famalicão para reunir com o novo conselho de administração da ULS do Médio Ave, nomeado há menos de um mês, acabou por ser Álvaro Almeida, o Diretor Executivo do SNS, a explicar o ponto da situação relativamente ao processo de devolução da unidade tirsense à Misericórdia, sublinhando que o processo se encontra em “fase de negociação”.
“É um processo que exige um trabalho negocial intenso”, revela, em conferência de imprensa, em resposta a uma questão do Entre Margens. “A devolução para a Santa Casa de Misericórdia pressupõe haver acordo de ambas as partes nos termos dessa transferência, portanto é nessa fase que nos encontramos”.
Álvaro Almeida reafirma que não está em causa a decisão de devolver o hospital à Misericórdia e nega que esteja em causa a “amputação do SNS”. Pelo contrário. Para o diretor executivo, este processo vai significar um “reforço da presença do SNS com o aumento da capacidade do hospital de Santo Tirso” já que vai, não só continuar a prestar os serviços que hoje presta, “como eventualmente até mais”.
O recém-empossado presidente do conselho de administração da ULS do Médio Ave, Luís Vales, não esconde a “dificuldade em projetar o futuro” perante esta indefinição, no entanto garante que “nenhum cidadão ficará sem os seus cuidados de saúde” e que a ULS “continuará a responder independentemente de qual seja o desfecho perante os cidadãos de Famalicão, Santo Tirso e da Trofa”.
Recentemente, a Assembleia Municipal de Famalicão aprovou uma moção de recomendação para a criação de uma Parceria Público-Privada (PPP) para a gestão do Hospital S. João de Deus e o avanço urgente do seu alargamento e modernização, sendo que a autarquia famalicense está disponível para encontrar soluções que permitam “obras urgentes” na unidade.
Face ao contexto, Fernando Vales revela que existem dificuldades com os prazos de execução relativos aos investimentos planeados no âmbito do PRR, cuja data limite de 31 de julho implica uma reavaliação sobre a capacidade para concretizar. Por outro, o dirigente adianta que já tem conversas marcadas com o presidente da Câmara de Famalicão para verificar o estado atual das coisas, fazer o diagnóstico e “avançar com aquilo que será possível”. Para além das condições físicas da unidade, o novo presidente do conselho de administração da ULS reconhece as dificuldades no serviço de urgência, nomeadamente no que toca aos médicos tarefeiros.
“Esta é uma urgência que depende muito de tarefeiros e esse tem sido o nosso problema: fazer com que os tarefeiros venham trabalhar e se juntem aos especialistas”, explica. “O que temos feito é aumentar o número de especialistas para colmatar essa deficiência a nível de tarefeiros”.
Por sua vez, Álvaro Almeida argumenta que foram precisamente as dificuldades encontradas na ULS que levaram à substituição conselho de administração e que a nova estrutura diretiva se encontra a “trabalhar para resolver esses problemas”. No entanto, assegura, “a unidade está preparada para enfrentar os problemas que possam surgir durante esta época de inverno, nomeadamente eventuais picos de procura das urgências”.
