Vamos aos factos. Portugal é um país seguro. Tem relativamente pouca imigração. Não há qualquer correlação, muito menos causalidade, entre aumento de imigração e criminalidade. Se olharmos apenas do ponto de vista socioeconómico, os imigrantes contribuem, com saldo positivo, para a segurança social e são responsáveis pela produção de bens e serviços fundamentais para toda a população.
As zonas de Martim Moniz, Intendente, Arroios, são zonas seguras e com uma grande riqueza multicultural. Os problemas alusivos ao tráfico e consumo de droga, na rua, prostituição e furtos, do passado, diminuíram drasticamente e deviam-se a fatores alheios à imigração.
À revelia da objetividade dos factos, o atual governo decidiu insinuar a associação entre imigração e insegurança, e fazer dela uma parte central da sua atuação política. A operação na rua do Benformoso foi a gota de água, e marcou um ponto decisivo na história da Política Nacional. O PSD adotou a estratégia da extrema-direita.
Estamos perante um governo populista e chalupa. Populista porque pega num estereótipo infundado, e profundamente racista, e procura exponenciá-lo junto da população. Chalupa, porque sucumbiu à narrativa da pós-verdade, onde a verdade e os factos são substituídos por perceções.
Mais do que um problema político, o desfasamento entre a perceção e a realidade pode ser visto como um problema clínico. Para a extrema-direita, no entanto, é um programa político, que este governo decidiu imitar.
Uns dir-me-ão que é apenas uma estratégia para secar o Chega. Mas como é que se seca o Chega, validando as suas políticas e legitimando-as no espaço público? O mesmo dano provocado por um autor diferente não muda a natureza do dano. Se o PSD imita o Chega, não o seca, converte-se num Chega e torna-o consequente.
Apesar da sua denominação, já todos sabíamos que o PSD não era nem nunca foi social-democrata. Mas ninguém duvidava, mesmo os seus mais ferozes opositores, do seu personalismo humanista. Deixou de o ser.