À entrada de um ano decisivo, o Entre Margens desvenda alguns dos assuntos que vão estar em cima da mesa ao longo dos próximos meses e explica o que estará em jogo entre os protagonistas do espaço público.
É num presente de dúvidas e contradições que 2025 se prepara moldar a vida das pessoas. Enquanto a política nacional se entretém com os futuros candidatos presidenciais, e a nível internacional o mundo mergulha nas contínuas consequências dos conflitos no médio oriente e no leste da europa (influenciados a partir de 20 de janeiro pela nova administração Trump), a política local vai entrar em pulverosa.
Em fim de mandato, os autarcas apressam-se para concluir obra e resolver assuntos fulcrais para a vida das pessoas antes que o calendário chegue a outubro. Há muito em jogo e ninguém quer ficar na corda bomba.
Eleições trazem nova onda de autarcas
É um fim de ciclo nas juntas de freguesia do concelho de Santo Tirso. Nove dos treze presidentes de juntas serão caras novas, com a chegada à limitação de mandatos dos atuais eleitos. Facto que abre uma enorme janela de oportunidade e acrescenta uma pitada de incerteza aos resultados.
Com o mapa do concelho totalmente pintado de rosa desde 2021, a oposição tem pela frente o Evereste se quer destronar o PS do poder. No entanto, esta debandada dos presentes líderes de freguesia, pode significar dar ao PSD uma nova vida. Nem todos os candidatos serão as melhores escolhas, de parte a parte, e as surpresas podem surgir quando menos se espera.
Quanto às contas da Câmara Municipal, tudo depende do possível resultado do Chega. A batalha que se avizinha entre Alberto Costa (PS) e Ricardo Pereira (PSD) está anunciada há quatro anos, mas relação de forças para a formação de maiorias no executivo da Câmara ou na Assembleia Municipal pode depender do partido de extrema-direita.
Atualmente os socialistas dispõem de uma larga maioria em ambos os órgãos, mas a eleição de um vereador (ou mais) por parte do Chega pode desequilibrar a matemática eleitoral.
Sem esquecer que há quatro anos, o BE obteve um ótimo resultado e esteve perto de eleger um vereador como terceira força política e a CDU mantém uma presença real e instituída no concelho.
Haverá surpresas na manga ainda por desvendar? Candidaturas independentes? Coligações? Entre os dois principais partidos, nenhuma destas parcelas pode ser deixada ao acaso na resolução da equação eleitoral.
Duelo Faria vs Valente vai animar Vila das Aves
A freguesia que certamente estará no centro das atenções será Vila das Aves. Depois da vitória esmagadora em 2021, Joaquim Faria (PS) entra no último ano do mandato autárquico à espera daquela que será uma batalha eleitoral como há muito não se vê. Carlos Valente regressa ao confronto político contra a trajetória que vê como descendente da vila.
Os números dizem que este será um confronto de titãs, entre os dois candidatos que mais votos conquistaram na política avense recente. Joaquim Faria tem a seu favor o cargo que ocupa, sendo tradicionalmente difícil derrotar um presidente em exercício, e a força máquina socialista no concelho, habituada a ganhar. Carlos Valente tem como ponto forte o reconhecido passado de gestão autárquica (e atualmente da Associação Humanitária dos Bombeiros), sendo o rosto da luta e da afirmação identitária da vila face aquilo que é muitas vezes visto pela população como os “ditados” de Santo Tirso.
Uma vila que terá um ano com várias obras profundas a decorrer praticamente em simultâneo, seja na rua João Bento Padilha, seja com o início dos trabalhos também na av. 4 de abril de 1955. Terá a Câmara mais trunfos para jogar até outubro?
Infantário, finalmente
O caminho está a ser longo e moroso, pleno de obstáculos, mas 2025 deverá acolher a reabertura do infantário de Vila das Aves. Em visita ao local, no passado mês de novembro, Joaquim Faria apontava para março a reabertura depois da conclusão das obras cujo valor já ascende aos 500 mil euros.
A questão do infantário é particularmente relevante por dois motivos. Primeiro, porque volta a capacitar a vila de um equipamento e de um serviço fundamental para a comunidade, disponibilizando 46 vagas para o serviço de creche/berçário, tal como está protocolado com a Segurança Social.
Segundo, porque cumpre, oito anos depois a principal promessa eleitoral de Joaquim Faria nas eleições de 2017, dando-lhe a vitória sobre a então presidente de junta, Elisabete Roque Faria. O problema não era de resolução simples. Muitos foram os avanços e recuos, as mudanças de estratégia, mas 2025, finalmente, o infantário vai reabrir. E reabrir sob gestão da AMCH Ringe.
Cineteatro, talvez?
A saga do cineteatro de Santo Tirso pode ter em 2025 um ano decisivo para a seu desfecho. Em setembro, o presidente da Câmara, Alberto Costa, surpreendeu toda a gente durante a apresentação do programa para o festival internacional de guitarra, quando apontou concretamente para 2025 a decisão sobre uma casa de espetáculos para Santo Tirso.
“A construção de uma grande sala de espetáculos em Santo Tirso faz parte deste grande plano de aposta na área cultural e artística, colmatando desta forma uma carência que está identificada e permitindo aumentar as condições para a atividade cultural”, anunciava o autarca no passado mês de setembro.
Questionado pelos jornalistas, na altura, reforçou a ideia, afirmando que o projeto estava feito, podendo a obra avançar mesmo durante o ano de 2025. Mesmo perante as incertezas, deixou algo muito claro: “ficará concluído com toda a certeza durante o próximo mandato”.
Hospital Santo Tirso na incerteza
Em dezembro, o primeiro-Ministro Luís Montenegro apanhou a comunidade tirsense completamente de surpresa com o anúncio de um acordo com a União das Misericórdias para a transferência da gestão do hospital de Santo Tirso. A decisão vem recuperar a intenção do Governo liderado, à época, por Passos Coelho e revertida à última hora por António Costa.
Ora, o anúncio não deixou ninguém indiferente. O PSD local, apoia a decisão do Governo e até quis tirar partido, assumindo-se como interlocutores da negociação. No restante quadrante político, estupefação. A Câmara Municipal diz que não foi tida nem achada no processo, acusando o Governo de negociar com líderes partidários não eleitos. À esquerda, CDU e BE condenam totalmente uma decisão que fere o SNS. E mesmo a administração da ULS revela, em reunião com os deputados do PS que desconhece o protocolo e quando é suposto entrar em vigor.
Perante todo este cenário, há mais dúvidas do que certezas. Um anúncio do primeiro-Ministro, um comunicado da sua concelhia local e uma nota vaga e cautelosa por parte da Misericórdia de Santo Tirso. Como é que vai funcionar? Com que modelo? Com que gestão? Até ao momento, ninguém sabe, ou ninguém ainda quis dizer.
Crise na habitação
Com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) a entrar na fase final de execução e com a crise no acesso a habitação em pleno, o ano de 2025 apresenta-se como decisivo para a chegada ao terreno de vários projetos que tentam mitigar os efeitos perversos da espiral inflacionista do mercado.
No âmbito da Estratégia Local da Habitação, a Câmara Municipal de Santo Tirso conta com um bolo de 8,2 milhões de euros para fazer face às necessidades apontadas na análise efetuada, revendo em mais de 2 milhões de euros o documento apresentado em 2021. No terreno, já se vêm algumas intervenções, nomeadamente com as empreitadas de reabilitação dos complexos habitacionais municipais, espalhados um pouco por todas as freguesias do concelho.
Falta o resto. Em outubro de 2023, a autarquia iniciou uma consulta ao mercado para a aquisição de 75 frações habitacionais com as tipologias T1, T2 e T3, num investimento que poderia chegar aos 4,7 milhões de euros.
Existem ainda dois projetos fundamentais neste puzzle que até ao momento não conseguir sair do papel. Em maio de 2023, a Câmara anunciava um acordo com a Efimóveis Imobiliária para a construção de dois empreendimentos habitacionais a custos controlados: em Vila das Aves, a terceira fase dos jardins de São Miguel, com cerca de 70 fogos habitacionais e em Santo Tirso, Friães, com 150 fogos. Até ao momento ainda não avançaram no terreno, apesar das perspetivas adiantadas na altura serem de curto prazo. A sua concretização seria um impulso muito relevante para as comunidades de Santo Tirso e Vila das Aves.