[Crónica] Curiosidades da história local: algumas freguesias hoje desaparecidas

CRÓNICAS/OPINIÃO Napoleão Ribeiro

É por muitos sabido que a dimensão considerável de Vila das Aves se deve ao facto de ser resultado de uma agregação de três freguesias. O mesmo aconteceu noutras localidades dos seus arredores o que, de forma ligeira e a título de curiosidade, aqui abordaremos, em especial as freguesias da parte sul das antigas Terras de Vermoim. 

A documentação mais antiga que atesta a existência das pequenas paróquias do Entre Douro e Minho, existentes e desaparecidas, surgiu na Idade Média, entre os séculos X e XIII. De facto, as elites administrativas da nobreza e do clero, no período pós-Reconquista, empenharam-se em legitimar os direitos e a posse de terras, listando, minuciosamente, propriedades e impostos. Desta documentação, logo na centúria de novecentos, as escrituras de doações, compra e venda de terras são a tipologia mais corrente. Porém, no século seguinte, foi produzido um precioso pergaminho, que atualmente se encontra no Arquivo Distrital de Braga, denominado Censual de Entre Lima e Ave. Calcula-se que o mesmo foi produzido nos últimos anos do episcopado de D. Pedro, entre 1081 e 1089 ou 1091, e contém um arrolamento de 573 paróquias de uma parte do território da então Diocese de Braga, compreendido entre os rios Lima, Ave e Vizela. Essa área, inclui as comunidades das Terras de Vermoim, onde se inseriam as atuais freguesias do atual concelho de Santo Tirso a norte do Ave: Sequeirô, Lama, Areias e Palmeira. Curiosamente, o rol tem um hiato, que corresponde à área das três freguesias que vieram a constituir Vila das Aves: São Lourenço de Romão, São Miguel de Entre Ambas as Aves e Santo André de Sobrado.

Outros dois documentos importantes para o conhecimento das diferentes paróquias medievas, foram as Inquirições Afonsinas, datadas de 1220, no reinado de D. Afonso II, e de 1258, no reinado de D. Afonso III. Estas, tiveram por objetivo averiguar quais as propriedades e direitos régios que existiam nas freguesias.

O Censual de Entre Lima e Ave e as Inquirições Afonsinas fornecem-nos elementos essenciais à compreensão da história medieval destas localidades, já que contêm inúmeros elementos relativos à sua toponímia; ao nome dos seus santos padroeiros (hagiónimos); ao tipo de culturas que produziam; às atividades piscatórias e venatórias; e aos impostos, quantificados sobre a produção de cada comunidade.

A falta de recursos para manter um cura na paróquia, assim como as diferentes decisões administrativas, foram motivos que, ao longo dos séculos, levaram à extinção de algumas destas pequenas comunidades que hoje são uma curiosidade. Demonstramos assim, alguns exemplos de paróquias desaparecidas de localidades próximas e que constam nos documentos anteriormente citados: 

  • Paróquia de São Martinho de Linhares, incorporada em São Mateus de Oliveira. Surge descrita no Censual de Entre Lima e Ave, do séc. XI.
  • Paróquia de Monte de São Miguel o Anjo, incorporada na freguesia de São Salvador de Delães. No século XVI ainda era paróquia.
  • Paróquia de São Jacob de Almofães, que se fundiu com a de Santiago da Carreira antes de 1220. Surge descrita no Censual de Entre Lima e Ave, do séc. XI.
  • Paróquia de São Félix de Almofães (também se denominou São Félix de Riba de Ave e Sanfins de Ave). Surge descrita no Censual de Entre Lima e Ave, do séc. XI. Fundiu-se com Santo Estêvão de Natal (que também se denominou Santo Estevão de Almofães e consta no mesmo Censual) formando a freguesia de Santo Estêvão Fins de Riba de Ave que, nos inícios do século XX, foi definitivamente incorporada em São Pedro de Bairro (também denominado São Pedro de Ranulfi). Na memória presente, ainda é referida como Sanfins.
  • Paróquia de São Julião de Matamá, incorporada em São Pedro de Bairro (também denominado São Pedro de Ranulfi). Surge no Censual de Entre Lima e Ave, do séc. XI.
  • Paróquia de Santa Marinha de Seide (também se denominou Santa Marinha de Landim), incorporada definitivamente na freguesia de Santa Maria de Landim,já no século XX.
  • Paróquia de São Bartolomeu de Ervosa (também denominada Ervosa São Bartolomeu da Lagoncinha), hoje tripartida entre Santo Tirso, Santa Marinha de Lousado e São Martinho de Bougado devido à sua dissolução, na década de 1830. Consta nas Inquirições Afonsinas.
  • Paróquia de São Lourenço de Romão, incorporada em São Miguel de Entre Ambas as Aves em 1835. Consta nas Inquirições Afonsinas.
  • Paróquia de Santo André de Sobrado, incorporada em São Miguel de Entre Ambas as Aves em 1835. Consta nas Inquirições Afonsinas.

Bibliografia consultada:

  • COSTA, Pe. Avelino de Jesus da – “O Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de Braga”. II volumes. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – Instituto de Estudos Históricos Dr. António de Vasconcelos, 1959.
  • CORREIA, Francisco Carvalho – “Limites da freguesia de Santo Tirso. A paróquia de S. Bartolomeu de Ervosa: as inscrições”. [s/l]: [s/n], 1999. 
  • DIAS, Geraldo J.A. Coelho Dias – “Vila das Aves, História da Paróquia e sua Toponímia”. Ave – Cadernos de Cultura. Vol. 7. Santo Tirso:  CMST, 1993.  

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