[Opinião] Um fim de semana (quase) repleto de política

Ana Isabel Silva CRÓNICAS/OPINIÃO

No último fim de semana, as televisões estiveram inundadas por dois grandes eventos políticos. Um deles foi o congresso do Partido Socialista (PS), onde foram votados os novos órgãos do Partido, agora com Pedro Nuno Santos como secretário-geral. O principal órgão, a comissão nacional, é encabeçada por Francisco Assis, seguido por Alexandra Leitão e também pelo ex-candidato a secretário geral Luís Carneiro.

No encerramento do congresso, Pedro Nuno Santos abordou as prioridades do futuro governo que quer liderar, enfrentando a difícil tarefa de desvincular-se da governação anterior sem tecer críticas a ela.

As suas prioridades parecem ser o reforço da industrialização e da economia portuguesa. Mas apresentou também outras medidas. Propõe um aumento do salário mínimo para 2028, fixando-o em 1000 euros. No entanto, ao manter o ritmo atual de aumentos anuais, o valor apresentado fica aquém do aumento que tem sido observado.

Ressalvou também ressaltou a necessidade de tornar a carreira médica mais atrativa, sem dizer bem como. Sobre a habitação escolheu não abordar a necessidade e urgência de políticas robustas para este problema. Medidas de esquerda verdadeiramente inovadoras e que rompam com as políticas da maioria absoluta ficaram por ser ouvidas.

Sobre acordos de maiorias pós-eleitorais, optou por não os esclarecer nesta ocasião. Adiou essa discussão para mais tarde, sem fornecer esclarecimentos sobre suas intenções para o período pós-eleições aos portugueses.

A Norte, na Alfândega, ocorreu a assinatura da Aliança Democrática (AD), com Luís Montenegro (PSD), Nuno Melo (CDS) e Gonçalo da Câmara Pereira (PPM). Antes do evento, afirmavam que Portugal necessitava de uma lufada de ar fresco. Contudo, ao analisar as pessoas e o programa apresentado, é difícil vislumbrar essa tão necessária renovação.

Iniciaram com um discurso de um “independente”, Miguel Guimarães, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, que será, com certeza, candidato pelo PSD ao Parlamento. Foram feitas várias críticas à saúde em Portugal, mas soluções concretas foram escassas. As comparações do sistema de saúde com uma empresa privada tornaram-se um clichê. A “nova AD” parece ser apenas uma tentativa desesperada de um partido como o PSD, o segundo maior partido da oposição, juntando-se a dois partidos atualmente irrelevantes na política nacional, sem um único deputado eleito e sem ideias transformadoras ou agregadoras. Esta coligação pré-eleitoral parece servir apenas para discutir cargos de deputados, permitindo ao CDS regressar ao Parlamento Nacional.

Quanto à política, a única grande bandeira é a redução generalizada de impostos, conforme defendido por Nuno Melo, sugerindo uma diminuição do IRS até ao último escalão. Ou seja, uma generosa oferta para quem mais tem, resultando numa falta de recursos para quem recebe menos ou a média nacional e para o serviço público em geral.

Faltam ainda muitas semanas para as eleições legislativas, teremos muito tempo para discutir políticas, propostas e acordos. Mas esperemos que não demore muito até perceberem que as pessoas estão à espera de clareza nesta campanha. Clareza nas propostas. O que queremos para o país nos diferentes setores? E que são necessárias políticas que rompam com as políticas de maioria absoluta dos últimos anos. Clareza também sobre o pós-eleições. Que acordos maioritários estamos dispostos a fazer e com que condições?

Precisamos de fins de semana repletos de política e não apenas de encenações.

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