Passaram 68 anos sobre a data da elevação da freguesia de Aves à categoria de vila. A concessão deste título foi obtida com todo o mérito, tendo em consideração o incremento industrial, a existência de infraestruturas de distribuição de água e energia elétrica, o desenvolvimento demográfico e urbanístico, e ainda, a circunstância de ser servida por boas vias de comunicação, tal como se pode ler no decreto publicado no “Diário do Governo” em 4 de abril de 1955.
Foram estes os fundamentos legais que justificaram a obtenção deste privilégio administrativo que, de tão pouco vulgar à época, rapidamente a designação Vila das Aves se generalizou e consolidou como topónimo desta terra, mesmo padecendo de nunca ter estado assim registado na Comissão de Heráldica. Aos fundamentos legais que foram enunciados, devo acrescentar o brio e o arrojo dos avenses, o bairrismo sadio e a atitude veemente dos seus líderes políticos e espirituais, em prol do bem comum da freguesia. Todos eles, com denodo e arreganho, levaram ao longe e ao largo o nome de Vila das Aves.
A propósito desta efeméride, muita outra coisa poderia trazer à lembrança, nomeadamente alguns acontecimentos reveladores da vivacidade desta terra, mas este não é o espaço adequado para o efeito. A minha finalidade é recordar que a grandeza e a nobreza desta terra dependeram muito da dedicação, da coragem, da seriedade política, da generosidade, em suma, do bairrismo da sua gente, ao longo dos tempos!
O que se assinala a 4 de abril, é o relevo da distinção que foi obtida com todo o mérito em 1955.
A longevidade desta conquista deve ser respeitada e preservada, mas nunca confundida com antiguidade de um território que foi integrado no concelho de Santo Tirso, em 1879, depois de, pelo Julgado de Vermoim e Termo de Barcelos, ter andado quase 7 séculos.
A elevação à condição de vila foi um marco histórico relevante na evolução da freguesia, que não pode ser subestimado como referencial de desenvolvimento e empenho das suas gentes. Por essa razão não faz qualquer sentido que a atual Junta de Freguesia faça desassociar do étimo de origem (Aves) a designação de Vila, justamente quando aquilo que pretende celebrar é a data da concessão desse estatuto, a elevação a vila.
Esta circunstância só favorece a confusão entre a antiguidade da Vila com a da Freguesia, tal com já se vai percebendo nas redes sociais. A Junta de Freguesia de Vila das Aves deveria ser guardiã da história desta terra e não dar azo a que alguém se aventure a reescreve-la. A forma como se apresenta em momento de celebração de aniversário faz crer que a freguesia e a condição de vila têm a mesma data de origem, quando efetivamente muito tempo de diferença as separam. Apesar da condição de vila se ter tornado uma realidade banal, essa referência não deveria ser ocultada, sobretudo em período de celebração do aniversário, algo que só é permitido a alguém que desconhece completamente a história da freguesia a que preside ou é desmemoriado. Não é aceitável que esta omissão se justifique por razões estéticas ou de desenho gráfico.
Pior observar é que os convites para a cerimónia foram expedidos com erros espantosos, que não foram corrigidos. Tamanho desleixo não tem justificação!
Também não me consigo rever num programa de comemorações tão minimalistas, composto por um hastear de bandeiras, uma eucaristia e uma sessão, dita solene, preenchida com um bolo de aniversário recheado de mais e novas promessas, quando nenhumas das apresentadas no ano anterior foram cumpridas. Para tanto basta recordar que entre as “prendas” do ano anterior constavam a abertura do Parque do Verdeal no verão passado, e as requalificações da Av. 4 de Abril de 1955 e Rua João Bento Padilha.
Daqui a um ano estaremos a ouvir a mesma conversa e a escrutinar o que foi anunciado, com a habitual “pompa e circunstância” ditadas pelo marketing político. Uma estratégia de manipulação da perceção pública num estilo que deriva frequentemente entre a “conversa da treta e coelhos a sair da cartola”!