[Opinião] Cineteatro, para quando?

Ana Isabel Silva CRÓNICAS/OPINIÃO

O Cineteatro de Santo Tirso tem uma importância icónica para a cidade. Para além de ser dos poucos edifícios em ruínas nesta cidade, carrega em si memórias de muitos dos habitantes da cidade. Memórias de quem encontrou neste espaço o convívio de vários tirsenses e um dos primeiros encontros com a cultura. Numa zona bastante central da cidade, permite o fácil acesso ao mesmo tanto por residentes da cidade como por habitantes noutras cidades pela sua rápida ligação à estação de comboios e autocarros.

O Cineteatro foi inaugurado no dia 10 de outubro de 1953 e a sua a construção foi um longo processo, mas uma constante batalha dos tirsenses. A sala tinha capacidade para 999 pessoas, dispostas entre a plateia e a tribuna. Semelhante a todos os Cineteatros do País, também o de Santo Tirso entrou num processo de degradação em 1975. Com o seu encerramento, desapareceu a única sala pública de cinema e teatro de Santo Tirso. No entanto, a sua requalificação tem sido marcada por uma série de avanços e recuos políticos.

“Após anos de promessas, avanços e recuos, a única coisa a avançar foi a requalificação da fachada do antigo cineteatro. Esperemos que a política cultural do concelho não se fique por obras de cosmética”

Ana Isabel Silva

Em novembro de 2007, era apresentado publicamente o projeto para a requalificação do espaço. O investimento previsto para o novo Cineteatro rondava os 10 milhões de euros. Ainda era Presidente da Câmara Castro Fernandes e afirmava então “Vamos construir o cineteatro com ou sem apoios do Estado”. Apontava o ano de 2009 como data de conclusão das obras e abertura do espaço. Não aconteceu. A solução mais tarde encontrada foi o estabelecimento de uma parceria público-privada (PPP) onde a Câmara entregaria a obra a um consórcio, sendo que a autarquia ficaria a pagar uma renda durante um determinado número de anos pela gestão e programação do espaço. A PPP foi estabelecida, porém o consórcio nunca conseguiu levar a obra em diante, sendo que, por mútuo acordo, foi rescindido o contrato no ano de 2011. A intenção de resolver a questão voltou, anos depois, à discussão pública. Joaquim Couto afirmou, em 2017, na campanha das eleições autárquicas ser uma prioridade absoluta para o seu seguinte mandato. No entanto, mais tarde, afirmando que não era candidatável a fundos comunitários, a requalificação do Cineteatro desapareceu da discussão política.

Em 2020, a Câmara Municipal realizou trabalhos de requalificação das fachadas e afirmou estar a desenvolver estudos para avaliar a capacidade estrutural das obras e a possibilidade de financiamento. Até hoje não foi anunciado um novo projeto para a requalificação do espaço. Aos deputados da Assembleia Municipal não chegou nenhum projeto para ser discutido ou votado. Após anos de promessas, avanços e recuos, a única coisa a avançar foi a requalificação da fachada do antigo Cineteatro. Esperemos que a política cultural do concelho não se fique por obras de cosmética ou fachadas. Volto então a levantar a pergunta: o Cineteatro, afinal, é para quando?

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