[Editorial] Votar para delegar o poder

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Em janeiro de 2022, em vésperas das anteriores eleições legislativas, escrevemos aqui que “a imprevisibilidade dos resultados torna plausível a velha máxima futebolística sobre os prognósticos: só no fim do jogo é que são de confiar”. Estávamos, como toda a gente, muito longe de prever que o “jogo” terminaria com maioria absoluta de um só partido, o que parecia poder dar como garantida a outra expectativa expressa nessa altura:” o essencial, após o jogo, é que se definam e garantam os entendimentos necessários à estabilidade, ao desenvolvimento e ao equilíbrio social e ambiental num país desigual e num planeta pleno de desgraças e acometido por incontáveis ameaças.”

Na verdade, a expectativa de estabilidade, atendendo aos resultados, saiu frustrada: o governo caiu, a assembleia da República foi dissolvida e eis-nos de novo com eleições à porta e com a possibilidade de, individualmente, reafirmar opções ou mudar de ideias, na certeza de que a escolha da maioria pode não coincidir com a nossa. Ao cumprir o dever cívico estamos a delegar em alguém o nosso poder, a nossa representação.

É oportuno, a propósito da qualidade dessa representação, referir duas situações:

–  As recentes eleições nos Açores deram relevo a uma alteração da lei eleitoral da região que melhorou a representatividade dos eleitores dos partidos mais pequenos no parlamento local. O “círculo de compensação” juntou todos os votos não considerados pelo método de Hondt e permitiu que fossem eleitos deputados de seis partidos em vez de três (como seria sem a compensação). Torna-se premente que este sistema seja também adotado nas eleições nacionais para que não sejam inúteis centenas de milhares de votos que, em distritos como Portalegre (que só elege dois deputados), não permitem uma representação.

– O aspeto mediático das ações de campanha faz passar para segundo plano o verdadeiro objetivo desta eleição (a escolha de deputados por distrito), mudando o foco para a escolha de um futuro primeiro-ministro. O processo de escolha dos deputados carece de alteração, sendo os círculos uninominais uma hipótese sensata. “A existência de círculos locais a eleger os deputados obrigaria os próprios partidos a uma escolha criteriosa dos candidatos”, escrevemos aqui na edição de 25 de janeiro.

Com candidatos exclusivamente propostos pelos partidos, resta-nos esperar que, se eleitos, tenham intervenção que mereça a confiança neles depositada.

Nesta edição do Entre Margens encontrará uma pequena contribuição para o conhecimento dos candidatos mais próximos de nós aos lugares de deputados. Aos que forem eleitos desde já fazemos votos de bom trabalho em prol da democracia, seja qual seja a distribuição de mandatos do parlamento e solução de governo que daí resultar.

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