[Opinião] O nó górdio das legislativas de março

Castro Fernandes CRÓNICAS/OPINIÃO

Realizadas as eleições internas do PS foi eleito Secretário Geral Pedro Nuno Santos com uma vitória de 62%, contra 36% de José Luís Carneiro e 2% de Daniel Adrião. Pedro Nuno Santos (PNS) candidatou-se a Secretário Geral do PS depois de um percurso político de mais de 20 anos que se iniciou na JS, tendo sido da estrutura, deputado à Assembleia da República, Presidente da Federação Distrital do PS de Aveiro, Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e Ministro das Infraestruturas e da Habitação.

Não foi estranho que PNS se tivesse candidatado a SG do PS, mas não era expectável que acontecesse tão rapidamente, não fosse a demissão totalmente inesperada do Primeiro-Ministro, António Costa, e a dissolução da AR decidida por Marcelo Rebelo de Sousa sem apoio do Conselho de Estado. Contrariamente ao que foi afirmado, também a candidatura de José Luís Carneiro estava a ser maturada há muito, desde que este foi nomeado Secretário de Estado das Comunidades, Secretário Geral Adjunto do PS e Ministro da Administração Interna. Por isso, em muito pouco tempo, apareceram os apoios políticos internos e externos aos dois principais candidatos a SG do PS.

Eleito SG, vai agora PNS ter um combate político muito mais importante nas eleições legislativas de 2024, já que sucede a António Costa com um currículo político invejável de SG do PS desde 2014, Primeiro Ministro desde 2015 e com maioria absoluta governativa desde 2022. Por outro lado, as próximas eleições legislativas não vão ser fáceis, dado que o PS vem de um desgaste político de governação de oito anos, com a elevada fasquia de ter ganho por maioria absoluta em 2022. Pedro Nuno Santos é um dirigente político determinado e foi considerado o grande obreiro da chamada “geringonça”, que permitiu que o governo minoritário do PS governasse entre 2015 e 2019, com o apoio do BE e do PCP, depois do acordo escrito exigido por Cavaco e Silva, enquanto PR, em 2015.

Pedro Nuno Santos vai agora apresentar-se em janeiro ao Congresso Nacional do PS, onde vai apresentar o seu Programa Eleitoral para governar Portugal. Serão então melhor conhecidas as propostas, algumas das quais já foram debatidas na candidatura a SG, e também serão conhecidos os novos dirigentes nacionais que irão acompanhá-lo nos combates políticos próximos, podendo surgir algumas surpresas. Com novas eleições, surgirão certamente novos candidatos a deputados à AR, indicados pelos círculos eleitorais distritais, que normalmente obrigam a um debate interno, até porque nas chamadas quotas distritais existem os naturais compromissos e também se definirá qual a política de alianças com vista à unidade interna.

Com uma oposição que agora se viu inesperadamente catapultada para o combate político eleitoral, vamos ter certamente Luís Montenegro e o PSD a posicionar-se como alternativa à governação do PS, mas também devemos estar atentos à política de alianças pré-eleitorais com o CDS que tenta assim recuperar o que perdeu. A Iniciativa Liberal, com o novo dirigente Rui Rocha, vai tentar consolidar-se como grupo parlamentar e o Chega vai também tentar afirmar o seu estatuto de partido mais à direita do espetro parlamentar. À esquerda o BE, com a nova dirigente Mariana Mortágua, e o PCP, com o também novo dirigente Paulo Raimundo, vão tentar recuperar o eleitorado perdido. PAN e Livre se se mantiverem no Parlamento já terão conseguido alguns dos seus objetivos.

Enquanto líder do PS, Pedro Nuno Santos vai fazer a sua prova de fogo político, pois tem necessariamente de ganhar as eleições legislativas para tentar formar governo em circunstâncias muito próprias, que dependerão essencialmente dos resultados eleitorais e da sua capacidade negocial em que já se demonstrou um exímio político.

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