[Opinião] Nova Temporada com Velhos Problemas

CRÓNICAS/OPINIÃO Rui Baptista

1A “silly season” (período de verão com notícias menos importantes) esta a chegar ao fim. No entanto este Verão tivemos acontecimentos de maior importância e outros menos sérios, mas que a sua cobertura mediática abafou por completo o que de essencial se passava.

De Espanha tivemos as eleições gerais que deixaram um vencedor que não vai conseguir governar e os vencidos para se manterem no poder estão a coligarem-se com Deus e com diabo. No entanto o caso do beijo Rubiales e Hermoso inundou os jornais e noticiários e diariamente passamos a ter um resumo dos acontecimentos. É tão dramático o acontecido como a cobertura que se fez de seguida. O verdadeiro feito (a conquista do campeonato do mundo de futebol feminino) e o facto do futebol feminino estar a ganhar competitividade, importância e projecção foi tudo abafado pelo beijo. É mesmo ridículo aquela cena vinda de alguém que é um alto dirigente, mas a novela seguinte é a inversão dos valores pelos quais efetivamente devemos estar a debater e consciencializar as pessoas. Não sei nem me interessa quem tem razão, mas uma coisa é certa a mudança da versão dos factos dos intervenientes não abona nada a favor da causa das mulheres vítimas de abuso e assédio.

2Outro tema que surgiu nestas férias foi o veto do Presidente da República ao diploma “mais habitação”, com duras críticas não só à legislação em si, mas também à forma como a mesma foi feita.

O Presidente deu várias pistas sobre o que achava que devia ser corrigido, mas o Governo e o PS já fizeram saber que vão fazer ouvidos de mercador e que a lei será aprovada com a maioria do PS.

Um dos pontos que o PR apontou foi o facto de o pacote não ter sido obtido com um largo consenso, pois deveriam ser medida a longo prazo que fosse realizado uma espécie de pacto de regime.

O problema da habitação é efctivamente grave porque esta a condicionar o futuro dos jovens e a fixação desta população em Portugal.

As medidas apresentadas, mesmo sem entrada ainda me vigor já tiveram um efeito perverso. Num mercado com rendas congeladas durante anos e com a perspectiva de apenas poderem ser actualizadas em 2%/ano quando temos inflações de 7%, praticamente consideram-se congeladas, fez com que novas casas a entrar no mercado de arrendamento já entrassem com valores ainda mais altos para compensar os aumentos futuros. E levaram também à corrida às rescisões dos actuais contratos para que não estejam em vigor aquando da entrada da nova legislação. Enfim o efeito pernicioso do aumento médio das rendas e a diminuição da oferta de casas no mercado.

No site idealista de compra e venda de casas, uma fonte estatística muitas vezes citada temos dados curiosos sobre a evolução do custo arrendamento em julho de 23: em relação ao mês anterior subiu 3.8% e em relação a abril de 23 subiu 8.3%, mas o mais chocante é que em relação a julho de 22 subiu 31.6%. Conclusão após o anuncio do pacote mais habitação as rendas dispararam mais de 1/3 em relação ao ano anterior.

Este Governo se quisesses fazer algo pela habitação e pelas famílias a primeira cisa seria colocar mais casas no mercado (pela via fiscal dos senhorios e pela via de mais construção). Aquilo que seriam aumentos graduais ao longo dos próximos anos estão agora a ser colocados em prática antecipando o congelamento dos próximos anos.

Colocar uma casa a arrendar é uma forma de PPR para muitos portugueses, e o que se está a fazer é que deixe de ser atractivo para quem tem muito dinheiro e, deixa de ser viável para quem quer apenas um rendimento extra investindo as suas poupanças.

No fim da linha este problema ainda vai ficar pior que o que estava.

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