Com os olhos no mundo, o Palheta Bendita tem “tudo para crescer”

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À 17ª edição, festival deu um de salto de gigante, abrindo-se à cidade e ao mundo, deixando a ‘fábrica’ e instalando-se no Parque de Geão. Adesão do público abre excelentes perspetivas para o futuro.  

Aquando do anúncio da passagem do Palheta Bendita, do outono para o verão, da ‘Fábrica’ para o Parque de Geão, a perceção geral foi de um momento de eureka coletivo. Tudo naquela formulação fazia sentido: o espaço, o tempo, a natureza, a música e os artistas. E se à partida, se esperava que a nova vida do festival lhe desse um impulso, talvez poucos acreditassem que o casamento fosse tão bem-sucedido desde o primeiro momento.

A combinação perfeita que se desenhava, concretizou-se no terreno e, seja qual for a perspetiva de análise, o ‘Palheta’ tem neste formato a base daquele que se poderá afirmar como um dos principais eventos do verão tirsense e arredores. Um cenário idílico que nem a ameaça de chuva (e as poucas gotas que acabaram por cair) fez desmoronar.

Sofia Cunha, gestoras das redes do festival organizado pela Associação Cultural Tirsense (ACT) e pela Câmara de Santo Tirso, não escondeu a satisfação da organização. “Tivemos uma adesão incrível, o tempo esteve do nosso lado, os artistas estão supercontentes e a cidade está a acolher-nos bem”, disse em declarações ao Entre Margens durante o segundo dia do certame.

“Quando comecei a trabalhar no projeto muito pouca gente sabia da sua existência, estava um bocadinho fechado no seu nicho, mas com a passagem para o parque de Geão estamos a conseguir abrir mais o leque e chegar a mais pessoas”, acrescentou. “Esta adesão popular é um boost motivacional para toda a equipa”.

Como festival centrado na música tradicional, o Palheta Bendita agrega em si duas facetas que se complementam. Se por um lado, os espetáculos e concertos são chamariz popular, parte relevante da sua atividade é o programa dedicado a profissionais e músicos através da realização de palestras, oficinas e a feira de construtores que coloca em contacto pessoas e sem filtro os vários intervenientes.

Oli Xiráldez, fabricante galego de gaitas de foles, já não é estreante nestas andanças e conhece a equipa do Palheta há vários anos. De regresso a Santo Tirso, mostra-se muito satisfeito com o cenário que encontrou no Parque de Geão.

“Quando olho à minha volta, vejo um mar de gente e isso é fantástico”, começou por dizer, em conversa com o Entre Margens no seu espaço expositivo, rodeado dos instrumentos que constrói, todos eles de sopro, das flautas galegas às gaitas de foles, passando pelos oboés. “Gosto muito das pessoas, tenho muitos clientes portugueses e relações profundas entre as associações de gaita de foles da Galiza e do Minho”.

Essa íntima relação entre o norte de Portugal e a Galiza fazem parte do ADN do Palheta Bendita. É impossível invocar o universo simbólico tradicional e não percorrer os mesmos caminhos.

“Para mim, a Galiza e o norte de Portugal são ramificações da mesma semente. Os espigueiros de pedra aqui são exatamente iguais aos de casa do meu pai. As tradições são as mesmas. A cultura é a mesma”, explica o fabricante. A diferença, diz está na fase do processo em que cada um dos lados da fronteira se encontra.

Enquanto na Galiza, desde os anos 80 que houve um grande rejuvenescimento do folclore e da música tradicional, depois de um enorme trabalho de preservação, em Portugal esse passo aconteceu muito mais recentemente, o que significa que por cá caminha-se ainda numa fase incipiente, mas que começa a dar frutos.

Frutos esses que Paulo Meirinhos, dos Galandum Galundaina, protagonistas da segunda noite de “Palheta”, experienciou na primeira pessoa ao longo dos últimos vinte anos.

“A música tradicional perdeu muitos espaços tradicionais, mas ganhou outros e está a reinventar-se”, apontou o músico ao Entre Margens. “A música tradicional sempre viveu da gente mais velha que a tocava, mas como se vê à nossa volta está a ganhar outro fulgor”.

Veteranos do circuito e já com várias passagens pelo festival, noutros formatos, Paulo Meirinhos deixa rasgados elogios ao passo dado pela organização em abrir-se a uma nova experiência.

“Este ano o festival ganhou uma quinta, quando até aqui tinha uma pequena horta”, referiu. “É um espaço muito bonito e agradável para se disfrutar, ouvir, conhecer os instrumentos e beber um copo. É o ambiente que gostamos. Conviver com as pessoas durante o dia, rever amigos de há muitos anos e à noite disfrutar da animação, porque quanto mais animação o público tiver, melhor tocamos”.

Esta nova quinta que para além desse legado da música tradicional de origem galaico-portuguesa, escancarou as portas do mundo, com o concerto de Saeid Shanbehzazeh, a descoberta do festival depois de um espetáculo memorável.

“Continuando a dar ênfase aos instrumentos tradicionais, principalmente à gaita de foles e à sanfona, o que se pretende é que o Palheta Bendita passe a ser um festival de músicas de mundo, mostrando ao nosso público que eles não são só importantes aqui, também fazem coisas bonitas lá fora”, revelou Sofia Cunha.

Objetivo cumprido. Se esta primeira edição servir de base, os próximos anos podem afirmar o “Palheta” como um caso sério. Santo Tirso e a região bem precisam.

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