[Editorial] O Desportivo das Aves a pensar no futuro

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Quando olhamos para o passado de uma coletividade, temos de partir do princípio de que todos aqueles que tiveram de tomar decisões o fizeram da melhor forma que souberam e puderam. Merecem louvor todos os que se disponibilizaram a servir a causa comum, oferecendo o seu saber e o seu esforço. Quem apenas critica nunca merecerá menção.

Quando mais tarde são avaliados os resultados das decisões, pode vir a verificar-se não ter sido alcançado o objetivo previsto. Ainda assim, e a não ser que haja intenção dolosa, são merecedores do apreço de todos porque deram o seu contributo à comunidade.

Em muitas situações não terá havido rigor na definição do caminho ou persistência no seu percurso. Noutros casos, quando o decorrer do tempo demonstrou que o caminho seguido não conduzia à saída esperada, não terá havido o cuidado de redefinir o rumo.

O Clube Desportivo das Aves, que jogava fundamentalmente com gente da terra, foi-se adaptando, ao longo de décadas, à evolução da organização do futebol profissional. Teve que constituir uma sociedade por quotas (SDUQ) quando a participação na II Liga a isso obrigou, pois de contrário competiria no escalão abaixo. E logo a seguir o desequilíbrio financeiro tornou-se asfixiante e a solução foi uma fuga para a frente, com a criação da SAD e cedência da maioria do capital. Os melhores e os piores momentos da vida do Clube foram então vividos. A sofrer as consequências do descalabro dessa SAD, o clube redefiniu, num processo de total transparência, o caminho para o futuro.

A decisão dos sócios do Clube Desportivo das Aves que é notícia nesta edição do Entre Margens parece ser a melhor decisão possível. Bloqueado para a prática do futebol em consequência do fracasso de uma SAD de má memória, o Clube vai cumprir as suas finalidades ajudando a promover, através de outrem porque não poderia fazê-lo sozinho, a prática do desporto preferido dos jovens da região. E garante a manutenção e até a beneficiação do seu estádio e demais instalações, através do arrendamento, enquanto ganha tempo para, nos tribunais, resgatar todos os seus direitos.

As condições contratadas com a Aves Futebol Sad permitem também a continuidade do espetáculo futebolístico na vila, mantendo, pelo nome (que parece em vias de ser oficializado) os aspetos bairristas e de afinidade com a equipa.

Mas o Aves é mais do que isso e regressará mais forte se o seu foco não for apenas o futebol. O anunciado arranque da modalidade de basquetebol é um valioso sinal de inovação. O Desportivo das Aves teve, desde sempre, perspetivas de desenvolver outras modalidades mas foi, de modo geral, pouco consequente na ação. Nos anos de 1930 houve demonstrações de basquetebol no campo da Passarada. Os idealizadores do estádio desenharam-no com pista de atletismo. Terá sido uma visão de alguém que encarava o desporto de forma eclética e sonhou que a pista pudesse ser o arranque da modalidade. Um rinque nas Fontainhas e depois o pavilhão projetaram outras modalidades. Houve quem encarasse o hóquei em patins como projeto. O voleibol, como é sabido, andou em vai e vem ao longo dos anos.

As circunstâncias do momento atual são oportunidade para a criação de outras modalidades, a par do desenvolvimento do futsal. O tempo dirá, conjugando o esperado sucesso da SAD que agora se instala com a vitalidade que o Desportivo vai poder demonstrar, se os versos do seu hino continuarão atuais e justificados: “Não conhecendo entraves, sua terra engrandeceu”.

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