“É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.” – Eugénio de Andrade
No centenário do nascimento de Eugénio de Andrade, que ocorreu há poucos dias, fomos à procura do poeta no antigo Jornal das Aves, pois tínhamos a lembrança de ter encontrado o conhecido poema “Urgentemente” numa das suas primeiras edições. Imaginamos, por momentos, que pudesse ter sido publicado como inédito e mais tarde integrado em livro, tendo logo chegado à conclusão que a conjetura era falsa. Ainda assim, pode ler nesta edição um texto que recorda o poeta e o poema que aquele semanário publicou em janeiro de 1958.
Curiosamente, essa pesquisa, feita na Biblioteca do Centro Cultural de Vila das Aves com a preciosa colaboração de Joaquim Moreira, o guardador de relíquias de papel que é também poeta, revelou-nos uma pequena notícia de setembro de 1955, com o título “A Junta de Freguesia e o desporto”. Nela se declara que “pelos vistos, os nossos governantes têm os olhos postos na Quinta do Verdial, onde seriam instalados Parques Infantis, Praia Fluvial, Campos de Jogos e até a sede do Clube Desportivo das Aves”. “Estamos certos que, mais dia, menos dia não deixará de ser uma realidade”, está escrito também.
Fica assim demonstrado que o Parque do Verdial, como ideia, nasceu há quase setenta anos e que a sua inauguração, esperada para breve, entregará ao povo o resultado de tão longo processo de gestação.
Lembrar isto hoje, serve para provar que lançar ideias-semente para o futuro da nossa terra pode resultar em longa espera mas acabar em frutos saborosos.
“Importa que o debate público não se limite às intenções e às ideias gerais. É preciso trazer ao debate os programas, os projetos de intervenção e os calendários de execução para as ideias que passam a obra”
O debate que se realizou sobre o “Palácio da Junta” e sobre os terrenos da Quinta dos Pinheiros e que é notícia nesta edição do Entre Margens teve esse desígnio: semear ideias que podem ser inscritas nas intenções de sucessivos elencos autárquicos numa perspetiva de realização a curto, médio ou longo prazo. E pode acontecer que, muitos anos depois, alguém descubra, nas páginas de um jornal antigo, uma ideia utópica de hoje que acabou por frutificar.
Importa, porém, que o debate público não se limite às intenções e às ideias gerais. É preciso trazer ao debate os programas, os projetos de intervenção e os calendários de execução para as ideias que passam a obra. E não basta discutir o que fazer do edifício antigo da Junta e como lhe dar vida e movimento, garantindo a sua manutenção e a preservação das memórias que carrega. É fundamental debater também o seu enquadramento urbanístico, é preciso conhecer e discutir os planos para o arruamento de ligação de Bom Nome à Tojela e “obrigar” à reformulação total desta zona central da Vila, projetando a ligação entre os três largos da Tojela para circulação pedonal e rodoviária. Não é uma utopia. É uma oportunidade.
Nesta edição encontrará também um texto cuja intenção é a divulgação dos programas relativos à melhoria das condições de habitação, nomeadamente no que respeita ao concelho de Santo Tirso. Esperamos desta forma contribuir para o melhor aproveitamento possível das oportunidades que tem vindo a ser anunciadas e cuja concretização começa a revelar-se a cada dia mais urgente.
Tão urgente quanto “é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras”. Com Eugénio de Andrade.