[Editorial] Um ano novo para recuperar esperanças de paz e progresso?

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

1 A sucessão dos dias e das noites e a sucessão das estações do ano foram dois mistérios que, desde sempre, a humanidade procurou compreender e explicar. Não foi tarefa fácil para os sábios da antiguidade definir o calendário que, a partir da facilidade com que se contam os dias e as noites, tornasse possível saber com quantos dias e noites se faz um ano e como estabelecer o início de cada uma das suas estações. A observação da altura do Sol no horizonte permitiu definir o dia mais curto (e a noite mais longa correspondente) e marcar esse dia como o início do novo ano. Novo ano significava nova vida na natureza, nova esperança de viver melhor e por isso se passou a festejar a data nas civilizações antigas. Foi a cristianização das festas romanas que esteve na origem do Natal. E embora, na atualidade, o início do ano não corresponda exatamente a essa data (o solstício de inverno), a lógica é a mesma e nela se baseiam as expetativas de nova luz, nova esperança nova vida.

Os tempos que correm não estão, porém, em sintonia com essa esperança de que, a cada dia que passa, teremos mais luz, mais calor, melhor vida. A guerra iniciada em fevereiro passado não tem tréguas e ninguém sabe como irá evoluir. Esperávamos todos superar com sucesso a pandemia que assolou o planeta e retomar uma vida normal quando tivemos que começar a enfrentar os problemas económicos associados à crise pandémica, da inflação, que veio para ficar, à crise energética que começou a desenhar-se. E logo surgiu a invasão russa da Ucrânia, uma guerra de expansão de uma superpotência, desenhada na mente obtusa de um ditador que, pensando reescrever a história não se dá conta da repetição da mesma, ao assumir o papel do grande ditador que os soviéticos ajudaram a vencer, há menos de um século. As instituições internacionais construídas para garantir a paz manifestam-se incapazes de cumprir a sua missão. Os apelos à paz não são ouvidos, a escalada da guerra parece imparável. A inflação e o preço da energia, nas suas diversas formas, passaram a depender da evolução da guerra.

Os tempos são difíceis e as tendências não parecem favorecer melhorias. É por isso que temos de apelar à recuperação da esperança de paz e de progresso, desejando Boas Festas e um novo ano que consagre o dever de construir a paz e promover os direitos humanos.

Da nossa parte, resta-nos agradecer, de forma sincera e calorosa a todos os assinantes, patrocinadores, anunciantes, colaboradores, cooperadores e entidades públicas o apoio que nos permitiu chegar até aqui e que, esperamos, nos permitirá continuar a progredir.

2 Nesta edição do Entre Margens encontrará razões para acreditar que publicar um jornal como este permite registar acontecimentos e testemunhos cuja consulta permitirá, mais tarde, verificar como um projeto nascido em circunstâncias particulares pode merecer ser recuperado (ver texto sobre a Casa da Galeria), como pode um sonho surgir das cinzas de outro sonho que falhou (ler sobre o espaço desportivo dos Bombeiros) ou como numa assembleia pode sentir-se o eco de intervenções doutro tempo, com outros representantes, mas com a mesma acutilância e pertinência. Para isso recordo que o arquivo da quase totalidade das edições do Entre Margens, desde 2001, está acessível no site do jornal na internet e, para as questões referidas atrás, vale a pena consultar, entre outras, as edições 439 (maio de 2010), 559 (abril de 2016) e 584 (junho de 2017).

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