[Crónica] Pode alguém ser quem não é?

CRÓNICAS/OPINIÃO Fátima Pacheco

Brasil, terra de múltiplas possibilidades para todos menos para negros, indígenas, pessoas dos grupos LGBTQIA+, ou até defensores de liberdade democracia.

Nestes últimos tempos vi horrorizada o assassinato de uma pessoa de origem negra pela polícia rodoviária… ele andava de moto sem uso de capacete e por isso foi assassinado no bagageiro de um carro da polícia por asfixia com gás lacrimogéneo. Depois dessa ocorrência, foram vários os passeios de moto do presidente da república com seus apoiadores. Pasme-se, pois, ele e outros estavam sem capacete.

Fora esse horror, assisti estupefacta à notícia do assassinado de duas pessoas, Bruno e Dom, um indigenista e outro jornalista, que faziam trabalho de campo na Amazónia. Primeiro desapareceram e, somente depois de haver muita repercussão nacional e internacional, fizeram buscas e descobriram – talvez sem grande profundidade – que foram assassinados. O que estavam descobrindo e viriam a dar a conhecer não interessasse a algumas pessoas importantes…

Mais perto, e sabendo que as terras do pindorama foram ocupadas de assalto aos povos originários por aqueles que a colonizaram e distribuíram a quem entenderam, a própria polícia assassinou um indígena que reclamava a posse de sua terra.

“A guerra parece não ser só na Europa… A Ucrânia é já aqui. A violência espreita a qualquer esquina. Ela está implícita em todos os movimentos pois é gerada pelas imensas desigualdades sociais que aumentam a cada dia que passa”

É, este é um país de múltiplas possibilidades, mais agora que o poder instituído reclama para armar o povo. Bem, não será o povo porque esse não tem dinheiro nem para comer. Cada vez mais se observa gente sem teto nas ruas, gente procurando comida nos contentores de lixo, gente pedindo nas portas por um prato de comida e gente que se junta a assaltantes e provocam terror… um país de múltiplas possibilidades, até aquelas que ninguém quer.

A guerra parece não ser só na Europa… a Ucrânia é já aqui. A violência espreita a qualquer esquina. Ela está implícita em todos os movimentos pois é gerada pelas imensas desigualdades sociais que aumentam a cada dia que passa.

E como pode alguém ser quem não é… vou assistindo a todas as notícias na expectativa que outros ventos possam trazer dias melhores. O calor das campanhas políticas não é animador, mas haja esperança de que o próximo ano possa ser mais sereno e solidário.

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