Já foi aprovado o Orçamento de Estado para 2022, sem surpresas o PS com maioria absoluta, chumbou praticamente todas as propostas de alteração que foram apresentadas pelos partidos da oposição.
Trago este assunto aqui porque, apesar de não ser algo que habitualmente se trate num jornal de imprensa local, este ano é um tema com grande impacto nas nossas vidas e no funcionamento das instituições da nossa terra.
O grande problema deste Orçamento é que é praticamente o mesmo que foi chumbado em outubro do ano passado. Onde o cenário nacional e internacional era completamente diferente, estava alavancado na recuperação pós-pandemia com incidência forte na retoma do turismo.
Volvidos 6 meses temos um agravamento da inflação, uma tendência já do final do ano de 2021, mas sobretudo uma guerra aqui nos vizinhos do lado.
Esta guerra veio agravar o problema dos fluxos de mercadorias a nível mundial, mas acima de tudo veio afectar o preço dos combustíveis e acelerar o aumento da inflação.
Ora o Governo reviu a previsão da taxa de inflação e do crescimento do PIB, mas segundo a maioria dos analistas as previsões do Governo estão claramente desajustadas.
“Pela primeira vez en décadas teremos inflação e teremos a real noção da perda de poder de compra, tal como nos tempos da troika, mas com uma diferença bem pior: o aumento das taxas de juro, logo mais carga para as famílias”
Rui Baptista
A maioria dos economistas assume que a media anual será superior a 4%, em Abril a já foi de 7,2%. Como é isto nos afecta? Ora se custo de vida vai subir em média 4% e mantemos o mesmo rendimento, significa que vamos comprar menos 4% das coisas que comprávamos o ano passado. Para isso o Governo deveria aumentar o rendimento das famílias, e a única forma de o fazer a toda gente seria reduzir a carga fiscal para amortecer o aumento do custo de vida.
Em termos práticos é como se nos fizessem um corte no nosso salário ou nas nossas pensões. Uma pessoa que receba um salário de 1000€/mês com uma inflação de 4%, esses 1000€ valem menos 40€. O salário mínimo foi aumentado para 705€, mas agora perdeu 28€, é como se este ano estivesse em 676€.
O mesmo vai acontecer às empresas, mas também a todas as instituições, Câmaras e Juntas de Freguesia, com a mesma receita conseguirão fazer menos obras ou menos actividades.
Inclusive os fundos comunitários serão afectados, pois se as verbas não forem revistas, a capacidade de investimento será afectada.
A titulo de exemplo, os 50.000€ que a Junta da Vila das Aves não gastou em 2021 e transitou para 2022, agora com esse dinheiro vai fazer menos obra que faria no ano passado.
Pela primeira vez em décadas teremos inflação e teremos a real noção de perda de compra, tal como nos tempos da troika, mas com uma diferença bem pior: para se travar a inflação de uma forma rápida aplica-se sempre a receita mais dura, aumento das taxas de juro, logo mais carga para as famílias.
Uma coisa é certa: vamos acabar 2022 mais pobres do que o iniciamos e que quem nos Governa está a ver “se passa de fininho” por isto.