[Opinião] Tanto a fazer

Ana Isabel Silva CRÓNICAS/OPINIÃO

No passado 1 de maio celebramos o dia do trabalhador. A sua celebração tem origem em 1886 em Chicago. Nesta data milhares de trabalhadores saíram às ruas exigindo direitos laborais. Este dia é relembrado pelo slogan que ficou a ecoar na história “Oito horas de trabalho, oito horas de lazer, e oito horas de descanso”, mas também pela trágica morte de vários ativistas, mortos pela repressão policial que disparou cegamente sobre a multidão que exigia direitos e dignidade. Apesar da repressão os trabalhadores continuaram a luta, que viria a resultar, anos mais tarde, em ganhos de direitos e de liberdade para a maioria da classe trabalhadora.

1 de Maio, data tão próxima do 25 de abril, tem para nós um significado especial. Em Portugal, o dia do trabalhador foi publicamente celebrado só depois de estarmos em liberdade. Uns meros oito dias após a revolução dos cravos uma explosão de pessoas enchia as ruas.  Apenas com a liberdade que nos trouxe abril conseguimos direitos sociais até aí negados: o Estado Social, a Segurança Social, o direito a cuidados de saúde públicos, à educação, à habitação, o direito ao trabalho e ao salário, a luta pelo pleno emprego, o reconhecimento às férias e aos subsídios de férias, a proibição dos despedimentos sem justa causa e a instituição, pela primeira vez, do salário mínimo nacional. Foi também após esta data que se consagraram ainda o direito à greve, à contratação coletiva e à organização sindical. Pela primeira vez, as mulheres tiveram acesso a carreiras até então negadas como a jurídica ou a diplomática.

“Assinalar o 1º de Maio é também relembrar e lutar pelo tanto que falta fazer no direito ao trabalho. Por melhores salários e menos horas de trabalho que permitam viver”

Ana Isabel Silva

Em Santo Tirso a luta e resistência operária também foi marcante. Uma greve de cerca de 8000 operários marcou o nosso concelho. Reinvindicavam a subida dos salários, regulamentação de horário e contestavam até o uso de violência física contra os operários. Esta resistência operária encontrou apenas violência por parte de quem não abdicava da exploração. Despedimentos e violência física, por vezes por meio da força policial, era norma. Há referências de que na Fábrica de S. Martinho um patrão obrigou um empregado bater noutro quando este exigiu ir embora (Lucta Operária nº1). Na Fábrica do Rio Vizela também se ensaiou uma greve por melhores salários em 1920. Foi apenas um ensaio porque a polícia agiu de imediato. Por salários em atraso na Fábrica “Abel Alves de Figueiredo” também se concentraram trabalhadores em luta.

Recuperar esta memória de opressão e resistência é essencial. No entanto, o poder político local tem preferido encher as ruas com os nomes dos industriais que se oposeram violentamente contra todas as lutas por melhores condições laborais, oprimindo ainda mais quem nunca conseguiu ter voz.

Atualmente, assinalar o 1º de maio é também relembrar e lutar pelo tanto que falta fazer no direito ao trabalho. Por melhores salários, e menos horas de trabalho que permitam viver. Pela igualdade plena entre homens e mulheres no acesso e direito ao emprego.  

Preservar a memória do passado é honrar as lutas do presente e moldar o futuro que queremos. Que tenhamos visão para isso mesmo!

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