Pode alguém ser quem não é?

Fátima Pacheco

Todo o mês de novembro, em todos os anos, o Brasil fala do que designam de Consciência Negra.  São Paulo é um dos estados em que se “comemora o feriado”  do Dia da consciência negra” sendo esse um dia de reflexão. Infelizmente, nem todos os estados param nesse dia para pensar num facto tão gritante como é a constatação de que o racismo está tão enraizado na sociedade brasileira e, que a população branca não tem noção do quão  preconceituosa é, além de ignorarem a dívida social que carregam.

A diáspora negra não surgiu por vontade destes procurarem futuros melhores, como foi o caso da grande maioria da migração recebida no Brasil e da que nós conhecemos na nossa realidade portuguesa. A diápora surge com a colonização, com a concepção eurocêntrica de que o negro não tinha alma e, por isso, não era gente, surge de desumanização de um povo com sabedoria e cultura milenares, com a obrigatoriedade de os fazer negar sua religião, seus ritos, seus signos, seus nomes, suas famílias.

“Infelizmente, nem todos os estados param para pensar num facto tão gritante como é a constatação de que o racismo está tão enraizado na sociedade brasileira e, que a população branca não tem noção do quão  preconceituosa é, além de ignorarem a dívida social que carregam”

Fátima Pacheco

Muitas vezes se ouve falar que entre os negros já havia escravidão. Mas, na civilização grega e romana, também havia. Necessário será entender as relações entre senhores e escravos, como essas pessoas surgiam como escravos nessas civilizações e como se dava, também, esse fenômeno no continente africano considerando a espaço temporal a que me refiro.

Os escravos sequestrados e trazidos para a América não eram pessoas, por isso morriam nos barcos negreiros e eram despejados no mar sem qualquer ritual de despedida, por isso eram amontoados como sacos em granel, por isso não lhes eram fornecidos alimentos em quantidade suficiente que permitissem não adoecer, por isso eram batizados com nomes portugueses, fazendo-os renegar os de sua origem ancestral e sua religiosidade assente nas forças da natureza, por isso tinham de aprender a falar português, sendo separados de modo a que línguas comuns não lhes permitissem manter sentidos de comunidade.

 E como pode alguém ser quem não é… procuro na literatura negra compreender o sofrimento de um povo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

3 + four =