[Opinião] Filme repetido

CRÓNICAS/OPINIÃO João Ferreira

O orçamento municipal para o próximo ano, aprovado pelo PS, perpetua o mesmo trilho de insuficiências que têm marcado a governação do concelho. Numa altura em que Santo Tirso enfrenta desafios profundos, seria necessário um orçamento que se erguesse como resposta clara e ambiciosa. Reconhecemos, claro, os poucos avanços: reforço da ação social escolar, construção da Casa da Juventude, requalificação da VIM e aumento no investimento em saneamento e água. Contudo, esses passos tímidos são incapazes de enfrentar os desafios que o concelho enfrenta.

Santo Tirso é, hoje, o município do distrito do Porto onde as rendas mais dispararam no último ano. E qual a resposta do orçamento? Um investimento que fica muito aquém dos 5% previstos para habitação pública até ao final do mandato, ainda que ancorado em fundos europeus. A CDU apresentou propostas concretas: reforçar a habitação pública e criar uma bolsa municipal de fogos para arrendamento acessível. Foram rejeitadas. O inverno também não traz consolo. Em 3.500 alojamentos tirsenses, as famílias vivem sem aquecimento básico. Propusemos um programa para combater a pobreza energética, com comparticipações em equipamentos de conforto térmico para os mais vulneráveis. Resposta? O silêncio glacial do PS.

Santo Tirso é um dos concelhos do país onde as famílias mais pagam pelos serviços básicos de água, saneamento e resíduos sólidos. Esta realidade não é apenas injusta, é insustentável. Propusemos alargar o número de beneficiários do tarifário social e automatizar a sua atribuição. Mais uma vez, a proposta foi recusada. Ainda mais grave, o PS continua a ignorar o erro estratégico da entrega destes serviços a empresas privadas. Sob a gestão do município, seria possível aplicar políticas tarifárias que aliviariam os orçamentos das famílias tirsenses. Será que o PS não vê que a gestão pública permitiria políticas tarifárias mais justas? Ou será que não quer ver?

O PS vangloria-se de abdicar de uma participação no IRS. Mas a quem beneficia? O alívio fiscal é maior para quem menos precisa, enquanto os trabalhadores de baixos e médios rendimentos, que representam a maioria da população tirsense, ficam à margem desta devolução. Os números são um grito de injustiça: em 2025, a devolução de IRS rondará 1.500.000,00 euros, superando as despesas previstas em áreas cruciais como a ação social, o apoio ao arrendamento e o apoio à cultura. Enquanto se desperdiçam recursos que poderiam ser canalizados para responder às necessidades coletivas, beneficia-se uma minoria com os rendimentos mais altos.

Acresce que, enquanto os orçamentos são anunciados com pompa, a sua execução é outra história. Projetos como a ligação de Vila Nova do Campo à estação ferroviária de Lordelo e a criação do auditório municipal são arrastados de ano para ano. Este ciclo de promessas não cumpridas compromete o presente e penaliza o futuro.

Por tudo isto, a CDU votou contra. Não por rejeitar tudo o que foi apresentado, mas porque este orçamento falha onde mais importa: responder às necessidades reais dos tirsenses. Lutaremos por mais habitação pública, serviços básicos acessíveis, salários dignos e políticas sociais que não sejam apenas palavras bonitas em páginas de orçamento.

Santo Tirso merece mais. Merece um Executivo que ouça os seus trabalhadores, jovens, famílias e idosos. Que invista com coragem e responsabilidade, sem comprometer o futuro. A CDU continuará a ser essa voz crítica, propondo soluções concretas e lutando incansavelmente por um concelho mais justo e solidário.

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