[Reportagem] Viagem literária entre Portugal e a Galiza com Vila das Aves como epicentro

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Escritores Alberto S. Santos e Conchi de Sousa Mateos passaram quatro dias pela região para apresentar os seus romances, “Amantes de Buenos Aires” e “Meiga, en Tiempo de Dalias”, e colocar a evidência os fortes laços culturais entre o norte de Portugal e a Galiza.

A literatura como ferramenta de conexão. Entre o norte de Portugal e a Galiza, já se sabe, há um passado ancestral comum entre os povos impossível de apagar. Um ADN cultural que é marca identitária e que durante quatro dias, com epicentro em Vila das Aves, foi reforçado e colocado em evidência.

Para este intercâmbio transfronteiriço, foram convocados os escritores Alberto S. Santos e Conchi de Sousa Mateos cujos livros “Amantes de Buenos Aires” e “Meiga, en Tiempo de Dalias” fazem parte de uma triangulação que tem em Luís Américo Fernandes o ponto de união entre as partes.

Em conferência de imprensa, o mentor deste encontro literário, através da Cooperativa Cultural Entre os Aves, explica que a ideia surgiu de uma confluência de coincidências que, a determinada altura, deixaram de o ser.

“Já conhecia o Alberto Santos, até porque já tinha apresentado um dos seus livros aqui em Vila das Aves”, começou por recordar. “Depois conheci a Conchi cujo contacto de amizade me permitiu perceber que, além de ser lusodescendente, com familiares aqui na região, tinha um livro que eu li com muita atenção e até decidira traduzir para português”.

Uma ligação entre os três vértices do triângulo que extravasa a realidade e trespassa para a literatura, uma vez que as obras acabam por pisar geografias semelhantes: entre o norte de Portugal e a Corunha, tendo na condição feminina, sob várias perspetivas, o conceito central.

Literatura como ponto de encontro

Para este convívio literário ibérico, o objetivo passou por abrir as portas das bibliotecas e levar os livros, e neste caso os escritores, para junto das pessoas e assim entrar em contacto direto o mundo. Entre escolas e instituições da vila e do concelho, pelos mais novos e mais velhos, museus, bombeiros, lar, estádio, enfim a palavra andou em alta rotação durante todo o fim de semana. Se a literatura precisa deste contacto para se manter viva, também as pessoas precisam desta ligação para explorarem uma outra dimensão sua.

“As coisas acontecem quando existe uma certa dose de loucura e pensamento fora da caixa”, referiu Alberto S. Santos, em conversa com a comunicação social. “A literatura tem este lado brilhante e interessante da vida: unir povos e pessoas que interessam pela causa das artes e da cultura”.

Para Conchi de Sousa Mateos, para além da vertente literária, o fim de semana de odisseia por Portugal foi um regresso à suas raízes, emocionante e visceral, que completou precisamente a tese do romance que trouxe na bagagem.

“O meu livro fala precisamente do reencontro com as raízes familiares e assim, quase sem saber, acabei por voltar a encontrar-me com familiares para momentos cheios de emoções fortes”, explicou a escritora, lembrando o avô Ramiro e o bisavô Manuel. “Estou a recordar-me de todos eles e a pensar que não estou aqui sozinha, estou rodeada de amigos e família”.

Laços de uma cultura ancestral

Apesar de separados por uma fronteira centenária, há um imaginário simbólico e cultural comum que ultrapassa as divisões administrativas. Os galegos sentem-no cá. E os portugueses sentem-no na Galiza. Daí que seja cada vez mais relevante fortalecer estes laços entres os dois lados da fronteira.

“São as pessoas que continuam a manter esta ligação viva”, sublinha Alberto Santos. “A Galiza e o Norte têm uma base linguística e cultural comum, mas também as experiências de vida, no território e no subconsciente através daquilo que são as nossas bases lendárias. É um imaginário muito forte cuja ligação se constrói, não através da política, mas sobretudo através dos povos e das pessoas”.

Daí que Conchi de Sousa Mateos veja estes encontros como “necessários” sobretudo usando a literatura como ferramenta. “Esta união para cambio de ideias não só abre as mentes à pluralidade, como também ao coração”. O Encontro Literário Ibérico foi organizado pela Cooperativa Cultural Entre os Aves e pelo jornal Entre Margens e contou com o apoio institucional da Câmara Municipal de Santo Tirso, Junta de Freguesia de Vila das Aves.

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