1 Em março de 2022 escrevemos neste mesmo espaço: “é urgente um cessar-fogo, é necessário encontrar mediadores, forçar o acordo entre as partes e obrigar ao respeito pelo direito internacional”.
Um ano passou e não há cessar-fogo, não há mediação, não há acordo entre as partes e o direito internacional é letra morta. A destruição de inúmeras aldeias, vilas e cidades da Ucrânia é praticamente total e só a coragem e determinação dos ucranianos tem permitido continuar a resistência ao exército invasor, contando também com o apoio ocidental em armamento e munições.
O envolvimento da União Europeia e dos países que integram a Nato na ajuda à luta da Ucrânia pela sobrevivência enquanto país independente tem como suporte a defesa do próprio conceito de democracia e liberdade contra um regime autocrático com pretensões a recriar um império. A inexistência de países capazes de atuarem como mediadores só prolonga a incapacidade das Nações Unidas neste domínio e a crescente poderio da China nos domínios militar e económico, bem como a sua pretensão de expansão, fazem-na vacilar entre o apoio à Rússia e a intermediação da paz. A economia de guerra alimenta o conflito e alimenta-se dele e não parece provável uma inversão de marcha neste cenário.
Está posto em causa o equilíbrio, já de si instável, entre as potências militares mundiais. As perspetivas de paz são cada vez mais remotas. Pobre Humanidade, incapaz de usar a memória do passado recente de guerras devastadoras, de usar a razão para debater e encontrar soluções pacíficas para os conflitos que inevitavelmente surgem.
Nada do que tem vindo a acontecer nos permite encarar com otimismo o futuro próximo.
Oxalá esteja enganado.
“Não é apenas por ser entidade licenciadora que a autarquia não pode alhear-se do problema. A construção, paralisada há mais de trinta anos, avançou depois de acordo efetuado em 2016 sob auspícios da Câmara”
2 O acesso à informação é um direito e a prestação de informação um dever. Quando um assunto como o do chamado “prédio da vergonha” de Santo Tirso chega aos órgãos de informação de âmbito nacional, não parece razoável a recusa à prestação de esclarecimentos. Nesta edição do Entre Margens são notícia os esclarecimentos, sobre o assunto, prestados por Alberto Costa em sede de Assembleia Municipal cuja realização foi posterior à divulgação do caso pela agência de notícias Lusa mas anterior ao relevo dado nalguns noticiários televisivos, onde foi notada a ausência de declarações da autarquia.
Não é apenas por ser entidade licenciadora que a autarquia não pode alhear-se do problema. A construção, paralisada há mais de 30 anos, avançou depois de acordo efetuado em 2016 sob os auspícios da Câmara e algumas das questões agora colocadas nas notícias e reportagens à volta do assunto revelam eventual incumprimento desse mesmo acordo.
E as declarações reportadas vão no sentido de que parte do problema possa também advir de alterações de monta surgidas entretanto. É bem notória a dissonância entre a notícia da jornalista Elsa Carvalho na edição de 30 de junho de 2016 do Entre Margens sobre o referido acordo e aquilo que foi realizado: “segundo o presidente (Joaquim Couto), o que está dialogado quanto à nova estrutura do prédio é que ele deverá ser nivelado com a parte já construída”.
Que se seguirá ao otimismo de quem garantiu que “depois de 33 anos de impasse, a Câmara Municipal conseguiu solucionar o problema do prédio abandonado”? O pessimismo de antever uma querela judicial de décadas.
Oxalá esteja enganado.