O Orçamento do Estado para 2026 chega num momento raro da nossa história recente: crescimento acima de 2%, dívida pública finalmente abaixo de 90% do PIB e contas equilibradas.
Este cenário não é produto do acaso.
Resulta de uma estratégia que assenta na competitividade e na confiança, com previsibilidade fiscal e foco no rendimento disponível das famílias.
Nada disto impede que haja debate, pelo contrário, exige-o!
Mas aquilo que assistimos ao longo da discussão orçamental foi outra coisa: a tentação do espetáculo. Algumas forças políticas tratam o Orçamento como uma montra anual de medidas populistas e fragmentadas. Um enfeite aqui, uma exceção ali, sempre de olho nas redes sociais e nos títulos do dia seguinte.
Não é assim que se constrói política pública!
A crítica à não atualização das propinas e à abolição pontual de portagens encaixa exatamente nessa lógica.
Não se trata de negar as dificuldades das pessoas, mas de perceber que cada euro retirado de propinas não atualizadas resulta numa fonte de financiamento social comprometida. E que cada portagem abolida num troço específico pesa sobre todos, sem critério e sem visão de rede.
Quando se governa com base em impulsos, tudo parece urgente e nada é importante. Quando se governa com visão, cada medida é avaliada pelo seu impacto estrutural, não pela sua eficácia instantânea na micropolítica territorial.
Há um ponto essencial: este orçamento não aumenta impostos e promove valorização salarial, não apenas no patamar mais baixo, mas também no salário médio, uma dimensão frequentemente ignorada.
Esta é uma mensagem fundamental para quem trabalha, progride na carreira e sente que o esforço raramente se traduz em reconhecimento financeiro. Portugal não pode continuar a ser um país onde qualificados entram e desistem, onde o talento se esgota no processo antes de chegar ao resultado.
Há ainda um avanço silencioso, mas transformador: a orçamentação por programas.
Objetivos concretos, indicadores de desempenho, transparência na aplicação de recursos. Não é tecnocracia: é responsabilização. Quem gere fundos públicos passa a justificar resultados em vez de slogans.
A discussão orçamental revelou, mais uma vez, uma oposição hesitante, por vezes contraditória.
Alguns partidos querem simultaneamente aliviar encargos e aumentar despesa; reduzir dívida e multiplicar exceções; exigir responsabilidade e promover experimentalismo legislativo.
Uma política madura não se faz de sobressaltos, faz-se de consistência.
O que este orçamento mostra é que o país pode escolher um caminho de confiança. Não de confiança cega, mas de confiança construída com regras claras, mérito, estabilidade e visão estratégica.
A execução deste orçamento será o verdadeiro teste. Aprovar é sempre o momento performativo; executar é o momento sério.
Aí se verá quem quer realmente governar e quem prefere comentar. Portugal tem condições para continuar a crescer e reforçar o rendimento das famílias, mas isso exige coerência e não pirotecnia política.
Que 2026 seja o ano em que deixamos de decidir por reflexo e começamos a decidir por futuro.
