[Editorial] O outro outono

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

O outono chegou. As condições de vida em Gaza vão piorar, juntando o frio à fome e à destruição programada em curso. É a pública evidência de um declínio da civilização no planeta. Esquecida a tragédia do holocausto, as antigas vítimas assumem-se como carrascos e a aniquilação dos adversários promove o ódio e multiplica os candidatos a mártires e a continuação do conflito. Não haverá vizinhanças pacíficas, por mais que se reconheça o Estado, dado o estado a que as coisas chegaram.

 Na guerra na Ucrânia apressam-se as tomadas de posições estratégicas para a ocupação do território durante o período de domínio do “general inverno”.  A guerra dos drones, essa, não deverá ter acalmia: a evolução da guerra tecnológica acelera o fim das esperanças de paz e de progresso. O autocrata com pretensões a czar de todas as rússias começa a ser tido como ameaça para outros vizinhos, que por isso procuram armar-se, na perspetiva de um conflito a prazo. Para mais, desconfiando da proteção do amigo americano, cada vez mais interessado nos negócios de alto nível e disposto a apoiar a europa, mas apenas com o armamento que a europa se dispuser a comprar.

Pompa e aparato aristocrático usou a velha Inglaterra para adular aquele que, não podendo tornar-se rei no seu país, tudo faria por eternizar-se no poder, não fora o seu outono de vida estar a virar inverno. Um aparato folclórico para cativar grandes negócios para um país em que grandes manifestações contra a imigração dão azo a que o tal Musk se ponha a dar palpites sobre a política de um país que não é o seu.

Em França, há manifestações violentas contra o governo, o que já não é novidade. A novidade é que, ao que parece, continua a haver governo.

Importa refletir: tivemos a sorte de viver na melhor época de sempre, em termos de prosperidade e de paz. Nunca, nem aqui em Portugal, nem na Europa ou nos países ditos ocidentais, houve tantos anos seguidos de razoável bem-estar, de crescimento económico, de acesso a condições de saúde, de educação, de habitação como nas últimas décadas.

Podia ser melhor? Podia. Mas o outono da civilização, o clima político e social que temos à vista, prenuncia a repetição de tragédias que não deviam ser esquecidas.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

one × two =