Caro leitor, ao fim de sete anos partilho aqui a minha última reflexão. A oportunidade de assinar um espaço mensal no Entre Margens foi um grande orgulho e uma grande responsabilidade. Este jornal tem uma história e um papel preponderante na nossa vila e na nossa região, que obriga a um grande sentido de responsabilidade a todos os que com ele colaboram.
Esta minha colaboração encerra porque, como já é publico, aceitei o desafio de liderar a candidatura da coligação Juntos por Santo Tirso à Assembleia Municipal, e dessa forma não poderia estar a continuar a utilizar um espaço de opinião, quando passarei a ser um dos actores da cena política local.
Ao fim de 8 anos afastado da actividade política local, não estava nos meus horizontes voltar. Contudo, após o convite dirigido pelo candidato à Câmara de Santo Tirso, Ricardo Pereira, decidi aceitar por cinco motivos:
1) Ao fim de 43 anos de liderança do mesmo partido, está a vir ao de cima um poder enquis-tado e refém de si mesmo. O regime que vigora em Santo Tirso está assente numa lógica distributiva de cargos para semearem apoios pela sociedade. Contudo, em 2025, está mais claro que as pessoas estão a ficar cansadas deste tipo de gestão;
2) O PS continua a gerir como se geria na década de 90, achando que controla os votos dos mais velhos e fazendo apenas obras em ano de eleições. Assenta-se no movimento associativo concelhio e nas paróquias, mas esqueceram-se que, infelizmente, a maioria dos tirsenses já vivem fora desse radar;
3) A maioria alcançada em 2021 mergulhou o PS local numa falsa bolha de hegemonia polí-tica, esquecendo-se que aquilo que lhe deu 60% dos votos foi a enormíssima abstenção, já para não falar dos brancos e nulos que ultrapassaram os 5,5%, mais que o PCP e Chega;
4) A saída abrupta de Joaquim Couto interrompeu o ciclo que iniciou em 2013 e, sem estar preparado e consolidado, Alberto Costa assumiu o Município e o PS, sem o carisma e a força política dos seus antecessores. A evidência é clara. Em 14 Juntas de Freguesia, o PS tem de apresentar candidatos diferentes em 9, sendo que em muitas delas é público e notório o desconforto gerado entre as escolhas do líder e os militantes e autarcas locais. Tal como na lista de vereação, onde ensaia uma remodelação para alocar novos vereadores. O poder absoluto está-se a traduzir numa teia complicada de gerir e que levou por arrasto a prestação da Câmara Municipal;
5) O papel da Assembleia Municipal ao longo destes anos tem-se diminuído a um mero órgão de suporte da actividade da Câmara, sem direito a contraditório e onde o Presidente manda patacoadas a todos os deputados da oposição que lhe apresentem alguns “porquês”. O Presidente da Assembleia Municipal é um ilustre desconhecido dos tirsenses, em geral, e não tem a capacidade para influenciar a gestão do executivo camarário. É pactuante com a estratégia de calar os Presidentes de Junta, que nunca tiveram uma intervenção na AM quando os interesses da sua terra estavam em choque com a Câmara.
Por tudo isto, e porque todos temos um dever cívico de dar algo pelos outros, aceitei o desafio de concorrer para Presidente da AM. Vamos finalmente transmitir as sessões em directo nas redes sociais, cumprindo o dever de informar e prestar contas, não subordinar e ocultar.
Ao longo destes anos, parece que se assumiu como dado adquirido que o PS é o dono disto tudo, mas não. O dono disto tudo é cada um de nós que tem o direito de escolher o que for melhor para a sua terra. Sem medos, sem amarras.
Obrigado pela vossa companhia ao longo destes 7 anos. Foi uma honra.