Elaboração do Projeto de Execução foi adjudicada prevendo um investimento total de 2,5 milhões de euros. Estudo aponta para uma ligação sempre pela margem esquerda dos rios Ave e Vizela atravessando Burgães, Rebordões, São Tomé de Negrelos e conjunto riquíssimo de paisagem industrial que faz parte do ADN da região.
No passado mês de janeiro, Alberto Costa, presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, revelava publicamente que as obras de limpeza e reabilitação das margens dos rios Ave e Vizela encontravam-se 80% concluídas. O autarca referia-se à empreitada avaliada em 1,2 milhões de euros que está a intervir ao nível da engenharia natural, de forma a preparar o terreno para a futura ligação pedonal e ciclável entre o Parque Urbano Sara Moreira, na Rabada e o Parque do Verdeal, em Vila das Aves.
Este trabalho que está a ser executado até à primavera corresponde a um conjunto de orientações estratégicas para a valorização do corredor ribeirinho, incluindo a recuperação da galeria ripícola, a erradicação de fontes de poluição, a valorização paisagística e a biodiversidade, o fomento dos habitats naturais da fauna autóctone e da atratividade deste espaço fluvial, criando e revitalizando sítios/lugares de valor patrimonial e paisagístico. Mas, no que é essencial para o projeto adjudicado, ressalta a “melhoria da acessibilidade e vivência do meio ribeirinho pela criação de um percurso pedonal e ciclável (inclusivo), de modo a aproximar as populações do rio ao contacto com a natureza, reforçando as oportunidades de conectividade longitudinal entre os dois grandes parques/centros urbanos municipais”.
Esse será o próximo passo a ser dado. O autarca tirsense, aliás, anunciou que o projeto de especialidade para a ligação entre os parques pelas margens dos rios Ave e Vizela deverá estar concluído em dezembro de maneira a que obra possa ser lançada no início do 2025.
Para tal, foi aberto em junho passado um concurso público para “Elaboração do projeto de execução da ligação pedonal e ciclável do Parque do Verdeal ao Parque Urbano Sara Moreira” a que concorreram três gabinetes de arquitetura. Concurso esse que foi ganho pelo gabinete MVCC, do Porto, tendo o contrato sido adjudicado em dezembro passado pelo valor de 113 mil euros.
A análise da documentação do concurso, a que o Entre Margens teve acesso a partir da plataforma Base.Gov, permite esclarecer que o estudo prévio aponta para um percurso pedonal e ciclável a desenvolver-se sempre ao longo da margem esquerda do rio Ave e do rio Vizela. Um investimento que a Câmara prevê rondar os 2,5 milhões de euros.
Assim, e caminhando de jusante a montante desde o parque da Rabada, percorrerá terrenos de Burgães e Rebordões, sempre próximo do rio. A mini-hídrica que criou uma albufeira que se estende até Caniços poderá criar algum constrangimento a resolver pelos arquitetos.
A zona da ponte de Caniços, na Estrada Nacional 310, é um outro problema a resolver, já que o percurso projetado cruza a estrada nos limites da ponte. Continuando para nascente em direção à confluência do Vizela com o Ave, a topografia, a antiga Chenop e a antiga fundição obrigam o percurso a subir a uma cota alta e à partilha com o trânsito local até passar à zona da albufeira da antiga mini-hídrica de Caniços, da Fábrica do Rio Vizela.
Todo o percurso desde esta zona de Rebordões até à entrada em S. Tomé de Negrelos, uma vez requalificado, terá um valor paisagístico ímpar, convivendo paredes-meias com o património natural e industrial que fazem parte do ADN da região. Não é possível, da análise dos documentos, tirar qualquer ilação sobre o tipo de solução prevista para o percurso pedonal/ciclável, neste troço. A solução de passadiços, moda a que Vizela há bem pouco tempo aderiu, poderá vir a ter aplicação aqui?
Chegar ao Parque do Verdeal, como se pretende, obriga a superar o constrangimento que as construções da Fábrica, desde 1845, criaram nas margens do Vizela. A proposta faz passar o percurso pelos caminhos interiores da parte mais antiga da fábrica, seguindo depois junto de algumas construções que são preciosidades de arqueologia industrial, entre as quais está a chaminé da velha caldeira a que popularmente se chama canudo.
A continuação faz-se junto ao rio até à ponte do Espírito Santo, atravessando-a, talvez por baixo, para continuar junto ao rio até ao Verdeal, onde entra na confluência do Ribeiro do Fojo, por trás da Fábrica da Estrela. Como final épico, mas não está na proposta, só ficaria bem uma ponte, à cota baixa, a ligar à margem direita.
A expetativa criada perante as observações no terreno é que os projetistas possam surpreender com as soluções para cada um dos problemas. E é de esperar que, tendo em conta a história da indústria têxtil no Vale do Ave, a construção desta obra seja também uma oportunidade para alertar quem de direito para a proteção e valorização do que resta dum património industrial de inegável interesse histórico. E não é só o grande canudo que marca a paisagem desde 1888.
A ligação pedonal e ciclável entre a Rabada e o Verdeal pode tornar-se num ex-libris não só do concelho, como da região. Se a obra for tratada como tal, tem tudo para dar certo.