[Editorial] Valorizar os rios e suas margens obriga a preservar a memória das indústrias que o rio tocou

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Nesta edição do Entre Margens apresentamos uma breve análise do Estudo Prévio do percurso pedonal e ciclável entre o Parque Sara Moreira em Burgães e o Parque do Verdeal, de que foi, há pouco tempo, adjudicada a elaboração do projeto de execução. Ficamos nós e ficarão os leitores na expetativa que os arquitetos paisagistas nos surpreendam positivamente com as suas propostas. Ansiamos por poder continuar a dar boas notícias sobre a evolução dos projetos.

A importância da informação no processo de “Intervenção de valorização do corredor ribeirinho”, em que se integra a construção do percurso pedonal, foi explicitamente reconhecida pela celebração, pelo município, de um contrato para a “realização de um plano de comunicação para apoio à implementação do projeto”.  Até à presente data só tivemos conhecimento de uma iniciativa com a comunicação social a esse propósito, no qual foi anunciado estar 80% concluída intervenção de 1,2 milhões de euros (ver edição do EM de 25 de janeiro). É de esperar que tal plano de comunicação nos possa vir a dar conta, nomeadamente, do andamento dos trabalhos e dos ganhos ambientais que vão sendo obtidos, bem como do desenvolvimento de novos projetos.

O potencial de promoção turística do concelho com este percurso pedonal é imenso. Mas importa também a investir, tempo e recursos, de forma organizada, no estudo e na preservação do património de arqueologia industrial existente à margem dos rios.

O edifício de central hidroelétrica de Caniços, da Rio Vizela é uma obra ímpar, pioneira da produção hidroelétrica, a exigir classificação como de interesse público. A antiga Central Térmica da Chenop tem muita história para contar, pela importância l que teve na eletrificação da região. Nas primitivas instalações da Fábrica do Rio Vizela há construções que importa estudar e preservar. Exemplo de pouca de atenção e muito desleixo é o Portal da Carvalheira, a principal entrada na Fábrica em muitos anos, que contrasta, para quem circula na estrada nacional, com a solidez e imponência dum grande canudo de tijolo, impossível de passar despercebido.

A industrialização de todo o vale do Ave teve início em 1845, com a construção de um edifício de quatro andares para uma fábrica de fiação sobre um açude no rio Vizela, sito no lugar de Fírveda, da freguesia de S. Tomé, então sede do concelho de Negrelos. O rio foi motor e mais tarde vítima da criatura que gerou.

Por isso, o percurso pedonal não pode restringir-se a um caminho. Importa que possa promover o conhecimento e a memória do que se viveu ao lado desse caminho, nas indústrias de que a corrente do rio foi o motor.

Registe-se o desafio. Para memória futura.

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