[Opinião] A minha geração quer ficar em Portugal

Ana Isabel Silva CRÓNICAS/OPINIÃO

Recentemente, uma notícia do jornal Expresso revelou que cerca de 30% dos jovens nascidos em Portugal atualmente vivem fora do país. Mais de 850 mil jovens, com idades entre 15 e 39 anos, trocaram Portugal por outro país. Esta é a minha geração. São as pessoas da minha idade que vejo nas notícias não conseguirem ficar em Portugal. São estes os meus amigos que vejo a procurarem oportunidades lá fora e a organizarem jantares de despedida com os amigos com quem deixarão de partilhar o espaço e a rotina.

Portugal é agora o país com a taxa de emigração mais alta da Europa e uma das mais altas do mundo. Os jovens escolhem destinos como Países Baixos, Suíça e Dinamarca. Embora conhecer novas culturas e novas realidades e ter oportunidades profissionais diferentes seja enriquecedor tanto profissional, como pessoal e emocional, essa procura deve ser uma escolha. Atualmente, é uma necessidade.

A direita pedia aos jovens para emigrarem, mas o atual governo de maioria absoluta do Partido Socialista tem tornado necessária esta emigração. Sem políticas económicas e sociais que permitam à minha geração vislumbrar um horizonte de esperança e futuro não temos qualquer motivação para ficar cá. E não, a razão para esta saída não é pela carga fiscal Portuguesa. É por salários mais altos e economias mais diversificadas e especializadas. Enquanto países com economias mais robustas oferecem salários mais altos e melhores condições de vida com melhor balanço entre a vida pessoal e profissional, os jovens da minha idade continuarão a sair. Em Portugal temos sido “compensados” apenas com clima e o sol, mas isso não chega.

Para além de cá ganharmos pouco, os gastos são dos mais altos. O salário tem de ser suficiente para sairmos de casa dos pais, termos a nossa independência e conseguirmos realizar os nossos desejos. Cidades como Berlim e Barcelona já limitaram os valores das rendas, é preciso fazer o mesmo cá. Precisamos de transportes públicos que funcionem para as nossas realidades. As vagas em creches com qualidade têm de ser uma realidade, para que tenhamos onde deixar os nossos filhos para irmos trabalhar.

Não estamos condenados a ser governados por partidos que priorizam os interesses dos negócios ou que promovem retrocessos sociais. A minha geração precisa de um horizonte de esperança, uma perspetiva de ter uma vida boa. Isso passa por casa, bom salário, ser respeitado no trabalho e uma sociedade que nos valorize. Somos a geração mais qualificada de sempre, queremos apenas aquilo a que temos direito!

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