[Editorial] São Bento e o Mosteiro de Santo Tirso

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

As festas de S. Bento têm vindo a transformar-se no evento de maior destaque nas iniciativas concelhias, conjugando uma antiquíssima romaria popular à imagem do santo patente no mosteiro de Santo Tirso com outras iniciativas festivas.

É curioso verificar, pesquisando os jornais locais (louvor à Biblioteca Municipal, que possibilita a sua consulta via internet), que ao longo de décadas se sucedem períodos em que ocorrem festas de Verão com referências brevíssimas à romaria do santo a outros períodos de festas ditas de S. Bento que procuram emular o brilho das festas do Conde de S. Bento, essas sim portentosas, já que o patrono pagava tudo.

Na leitura dos periódicos não resultam, de modo geral, evidências de ligação entre a festa religiosa e a organização da parte económica e recreativa. Por isso, a atual perspetiva laical de criar âncoras para o turismo religioso recuperando uma procissão que pode não ter sido de muita tradição, pode não vir a ter mais que um sucesso transitório como teve um mercado dito nazareno, que passou e andou. Nem a nova imagem do santo, de patrocínio municipal, garante o milagre da promoção turística pela via processional.

Tirso, o santo que tutelava o mosteiro, cedeu o seu nome à vila nascida na sua sombra. E, tal qual a romaria, foi no mosteiro de Santo Tirso, que o município nasceu. A sua criação coincidiu com a extinção das ordens religiosas, a expulsão dos frades e a nacionalização das suas propriedades. Logo foi cedida parte do edifício para a sede da câmara e para as repartições públicas. Outra parte acabou vendida a particulares, sendo mais tarde adquirida pelo Conde de S. Bento e posteriormente doada em testamento à Misericórdia com a obrigação de aí instalar um Asilo e Escola Agrícola. E a parte da Igreja e residência do pároco foi entregue à paróquia de Santa Maria Madalena. O conjunto marca a vida e a história do município.

Passaram mais de dez anos sobre a primeira ideia de candidatura do Mosteiro de Santo Tirso a Património Mundial da Humanidade e nada evoluiu nesse sentido. Mudou a liderança municipal e esqueceu-se a intenção. Foi mais tarde anunciado um entendimento com vários municípios para uma “Rede de Mosteiros e Paisagens Culturais Beneditinas”, de que nunca mais houve notícia.

E, no entanto, e a acrescentar a este secular património, é neste concelho que se situa o Mosteiro de Singeverga que albergou historiadores tão notáveis quanto José Mattoso e Frei Geraldo Coelho Dias, que estudaram e publicaram sobre os mosteiros da ordem de S. Bento e seus patronos. E à guarda do município está o espólio de Carvalho Correia, cuja “História do Mosteiro de Santo Tirso” a própria câmara municipal patrocinou. Não serão motivação bastante para um investimento cultural intensivo em redor do monumento e da história dos seus monges e patronos?

Sobre a parte do mosteiro que serve de escola pairam nuvens negras relacionadas com o fim do contrato de arrendamento existente entre a Misericórdia e o Estado. A questão que se coloca é saber no que pode via a seguir, se deixar de ser um estabelecimento de ensino. Também é questão para fazer parte da estratégia municipal para o Mosteiro.

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